Em números, setembro encerra com valorização do litro de leite ao produtor. Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, aponta R$ 2,1319, na média Brasil, 9,7% maior do que no mês anterior e recorde na série histórica. Para o Rio Grande do Sul, a média é de R$ 1,9996, avanço de 9,34%. No mercado, no entanto, já há sinais de mudança no panorama que sustentou essa alta ao longo de 2020. Em tempos de pandemia, é difícil precisar, mas as alterações em curso devem se traduzir em preços mais estáveis, no campo e na cidade.
– Já sentimos que os preços começam a estabilizar. É um momento de cautela em virtude da mudança de cenário – afirma Alexandre Guerra, presidente do Sindilat-RS.
Há pelo menos dois itens com comportamento diferente. Um é o aumento na importação do produto. Ao longo do ano, as compras vinham sendo inibidas pelo câmbio, que deixava o leite vindo de fora muito caro.
Dados mostram, no entanto, que as aquisições de outros países cresceram 39,9% em agosto, em relação a julho. Na parcial de setembro, 27%.
Outro ponto de atenção vem da redução no auxílio emergencial do governo de R$ 600 para R$ 300. Ainda não se sabe qual será o reflexo disso no consumo. O que se tem certeza é de que os bilhões injetados na forma de benefícios foram cruciais para o aumento substancial na demanda.
– O ano ficou totalmente diferente do imaginado. No início da pandemia, houve insegurança e volatilidade. Depois, o mercado fez a alta, em itens como leite UHT, em pó e queijo muçarela e em pó. Foi uma valorização importante e necessária, porque custos de produção subiram muito – acrescenta Guerra.
Eugênio Zanetti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), acrescenta que o produtor hoje recebe “um preço justo”. No Estado, o valor de referência do Conseleite em setembro foi projetado em R$ 1,65. O custo de produção é de cerca de R$ 1,35. Durante muito tempo, o valor recebido mal ou nem cobria os gastos.
Neste momento, a preocupação no radar vem da combinação de período de safra com aumento das importações de leite.
– Recomendamos cautela nos investimentos. O produtor não pode projetar o futuro com valores de agora – diz Zanetti.
A produção de leite é destaque nesta quinta-feira (01) nas provas da Expointer.