Para o consumidor, o preço da carne bovina se manteve em alta ao longo da pandemia. Para o produtor, julho trouxe um cenário diferente. O valor médio pago pelo boi gordo no Rio Grande do Sul engatou uma sequência de queda, semana a semana, no mês passado. Levantamento feito pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro) da UFRGS, mostra recuo de 12,8% entre a última e a primeira semana (veja gráfico), com o quilo passando de R$ 7,73 para R$ 6,74.
— O preço médio caiu por três semanas, mas, na última a redução perdeu fôlego — observa Júlio Barcellos, coordenador do Nespro.
Entre as explicações possíveis está o consumo da proteína no varejo, que se estabilizou e, em alguns cortes, teve queda. Esse sinal do mercado chegou aos frigoríficos, travando o movimento de alta, explica Barcellos. Outro fator de influência vem dos campos. A partir da segunda quinzena de julho começa a haver oferta maior de gado, marcando o início da temporada de safra, observa Ronei Lauxen, presidente do Sindicato Das Indústrias de Carnes do RS (Sicadergs). Soma-se a isso a redução de abates, neste ano iniciada ainda em março, quando começou a pandemia.
— O consumo não deve aumentar e a oferta tem tendência de aumentar — projeta Lauxen.
Presidente da Comissão de Pecuária da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Pedro Piffero observa que a baixa no preço do boi a partir da segunda quinzena de julho e histórica, em razão da oferta, que começa a aumentar, mas, neste ano, “baixou muito”.
— O termômetro de preços é a escala de abates da indústria. Se a necessidade for para amanhã, a tendência é de preços melhores. Se já completou a escala da semana, vai procurar o produto com calma — diz Piffero.
No mesmo mês em que o Estado registrou queda, a arroba do boi gordo (unidade equivalente a 15 quilos) em São Paulo registrou média recorde para julho, segundo acompanhamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP. Essa diferença é vista como reflexo dos movimentos opostos de safra e entressafra entre o sul e o centro do país.