Na contramão da indústria de carne bovina, que, segundo o Sindicato das Indústrias de Carnes do Estado (Sicadergs), registrou queda de 20% em maio, há um segmento específico que parece estar se reinventando e resistindo às adversidades em meio à pandemia: o de carnes nobres. Com foco em telentrega, kits semanais e venda de produtos associados - como o vinho — estabelecimentos têm driblado a crise. É o caso da Pampas Prime, butique na Capital especializada na venda de gado de raças britânicas criadas no pampa gaúcho. Por lá, o faturamento cresceu 85% em maio, quando comparado ao mesmo período do ano passado.
Segundo o proprietário, Volmir Carboni, o aumento é resultado de um conjunto de fatores. Um deles é o fato de que, ficando mais em casa, as pessoas se dedicam mais à culinária e escolhem ingredientes de qualidade. A higiene garantida em produtos embalados à vácuo, sem manipulação, e a certificação da carne são outros atrativos.
— Clientes novos estão chegando em busca de segurança e qualidade. Nosso pico de vendas, que era final de semana, agora é todo dia. Tem gente fazendo churrasco até na segunda-feira — comemora Carboni.
Outro fator apontado para o crescimento é o serviço de telentrega, que praticamente não era usado pelo estabelecimento antes da pandemia e hoje representa 10% das vendas - o empresário chegou a contratar um funcionário exclusivamente para esse tipo de demanda.
De acordo com Ana Doralina Menezes, gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada, o volume enviado para butiques e outros estabelecimentos que trabalham com telentrega subiu entre 20% e 30 % no período da pandemia — ao contrário de outros setores, como restaurantes, onde houve redução no fornecimento.
— São estabelecimentos que estão se reformulando, oferecendo carne fracionada para a pessoa fazer ao longo da semana, diversificando os produtos. Em um primeiro momento, no início da pandemia, o consumidor estava com medo, mas agora entendeu que precisará conviver com essa situação — avalia Ana.
Segundo ela, também houve alta nas exportações. Nos primeiros quatro meses de 2020, a demanda por carne angus certificada cresceu 60% quando comparada ao mesmo período de 2019. Só para a China, os embarques aumentaram 300%.
— De modo geral, não estamos identificando esse fenômeno. Nosso setor segue com queda de 20% em relação ao ano passado. Talvez algum modelo de negócio específico verifique crescimento, mas a indústria como um todo está devagar no Estado — contrapõe Ronei Lauxen, presidente do Sicadergs.
Com Rossana Ruschel