Sob efeito de uma combinação de ingredientes como variação cambial, chegada da pandemia e perdas pela estiagem, o mês de março trouxe um período de valorização histórica de preços para o agronegócio do Rio Grande do Sul. É o que aponta a inflação do setor, calculada mensalmente pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Em março, os preços recebidos pelo produtor subiram 5,71% na comparação com fevereiro. Mas é na comparação do acumulado de 12 meses que chegaram a aumento de 21,08%, o maior desde 2012 (veja abaixo). Naquele ano, forte seca nos Estados Unidos (e no RS) impulsionou as cotações.
Em 2020, o que está pesando mais é a desvalorização do real frente ao dólar, que tem produzido valores recordes no porto de Rio Grande para a soja. Economista da Farsul, Danielle Guimarães acrescenta outra razão para a alta de agora: os efeitos do advento da pandemia.
– Como março foi o começo do isolamento, houve uma onda de pânico, que fez a população correr para os supermercados. Por mais que o quadro reflita a valorização das commodities em reais, o mês é considerado um ponto fora da curva por conta desse efeito – explica.
A tendência é de que os grãos sigam em patamares de elevação, mas sem a amplitude do mês passado. Esse cenário tem favorecido as exportações de produtos brasileiros. Esses preços em ascensão não se converterão, necessariamente, em renda, pondera Danielle. Sobretudo no Rio Grande do Sul, onde a falta de chuva reduziu o volume colhido.
O levantamento apontou ainda avanço nos custos de produção: 0,84% na comparação com fevereiro e de 1,56% no acumulado de 12 meses. A variação ainda é em ritmo bem inferior aos dos preços recebidos, mas é vista como sinal de alerta. Se a taxa de câmbio se mantiver elevada, há perspectiva de aceleração dos gastos, já que a maioria dos insumos é importada. Neste momento, a baixa no petróleo tem sido um contraponto à alta do dólar.