A jornalista Karen Viscardi é colaboradora da colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço
O valor do trigo aumentou 25% nos últimos 60 dias no país. É um recorde de alta em período de tempo tão curto, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). No Rio Grande do Sul, a tonelada passou de R$ 700 para R$ 900, acréscimo de 28%. Com a elevação, a farinha subiu 10% em janeiro no Estado, índice que não recompõe todo o custo:
— Inicialmente a indústria está absorvendo, mas provavelmente a partir de março haja nova elevação — considera Diniz Furlan, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no RS (Sinditrigo-RS).
Os consumidores devem se preparar para pagar mais caro por pães, massas e biscoitos. Até porque, em março, quando os estoques dos moinhos estiverem mais baixos, novos aumentos devem vir, o que impactará na inflação.
Com o desequilíbrio internacional entre oferta e demanda, será muito difícil mudar esse cenário no primeiro semestre, acredita o presidente da Abitrigo, João Carlos Veríssimo.
— Se mantiverem patamar de hoje, a expectativa de repasse é de 15%, o que deve ocorrer entre as próximas sete a oito semanas.
Esse descompasso entre oferta e procura é resultado do maior apetite asiático, aliado às perdas nas safras de Austrália e Rússia e ao clima desfavorável nos Estados Unidos e Europa, que está em época de plantio.
Quem se beneficiou foi a Argentina, principal fornecedora de trigo para o Brasil e para o Rio Grande do Sul. Os vizinhos comercializaram 75% da safra recém colhida de 18,5 milhões de toneladas. Também houve elevação de 26% nos preços nos últimos dois meses, que passaram de US$ 190 por tonelada para US$ 240.
Não bastassem as dificuldades externas, os moinhos brasileiros tiveram o impacto do câmbio, com o dólar em R$ 4,19 (cotação desta sexta-feira), bem acima dos cerca de R$ 4 em novembro.