Representante da Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO), o mexicano Rafael Zavala foi um dos convidados para o lançamento, na segunda-feira (11), no Rio Grande do Sul, da Década da Agricultura Familiar 2019-2028, promovida pela ONU. Ele participou de ato, coordenado pelo deputado Elton Weber (PSB), na Assembleia Legislativa. Na pauta, estavam desafios do setor. Confira trechos da entrevista de Zavala à coluna:
Por que ter uma década dedicada à agricultura familiar?
A década surge do êxito do ano internacional da agricultura familiar (que foi em 2014). É um termo muito difuso. Vai desde o camponês africano até o agricultor gaúcho, que tem produção familiar viável, associativa. Mas graças a essa complexidade também ficou demonstrado que a grande maioria dos produtores são desse setor. E quando fazemos subdivisão, a maioria dos alimentos saudáveis está neste setor, sem sacralizar isso, nem satanizar os outros.
Quais os desafios do setor?
No sul do Brasil há uma agricultura familiar com ingrediente potente de cooperativismo, contundente. Esse componente não está presente em outros lugares. No Nordeste, por exemplo, o associativismo é para outros fins, não produtivos. Há uma parte da idiossincrasia regional que é diferente. Há outra agricultura familiar que é a Amazônica, que temos de trabalhar de melhor maneira, mais inovadora.
Como incentivar a sustentabilidade nas pequenas propriedades?
São dois pontos. Um é gerando a demanda por parte do consumidor. Essa agenda mais urbana da agricultura implica em maior proximidade entre consumidor e produtor. E o outro é desde a perspectiva de família produtora, que é parte de uma organização, que pode gerar regras de governança e de como produzir melhor, de maneira mais saudável e sustentável.
O que é um alimento saudável na visão da FAO?
É aquele fruto de sistema alimentar sustentável, que não provoque obesidade. E deve ser um alimento que colabore com a estabilidade do território, da cidade, da região, do espaço urbano. Na medida que colabore com isso será saudável e sustentável.
Como avalia as políticas públicas brasileiras para produção e distribuição de alimentos?
Poderia citar três pontos. O primeiro é que, em geral, há um marco muito forte de políticas públicas, mas existem desafios. Um deles é tirar o estigma da agricultura brasileira. Na Europa, tem fama de desmatar, de usar muito veneno. É o único país em que os agroquímicos se chamam agrotóxicos. E ainda mais com a tragédia da Amazônia. É desafio tirar o estigma, é uma estratégia de produtores, de indústria para promover ações que favoreçam a imagem da agricultura brasileira. Também esforço para melhor uso de água. O terceiro desafio, e há uma grande êxito, é da merenda escolar, como vinculá-lo à agricultura familiar. Existem exemplos exitosos, mas muito localizados. Alimentação escolar é verdadeiramente uma política de Estado. É a mais bem-sucedida.
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