A preocupação com a mortandade de abelhas produtoras de mel em razão do uso incorreto de agrotóxicos nas lavouras do Rio Grande do Sul será o fio condutor de reunião que ocorre amanhã e quarta-feira em Porto Alegre. No encontro, sentarão lado a lado representantes de agricultores, órgãos públicos e indústria. O objetivo é sair de lá com uma proposta de ação que permita resolver o problema.
– O que está acontecendo é o uso incorreto de produtos. Se aplicar errado, acaba matando as abelhas. Para nós, o que interessa é termos a convivência pacífica entre os dois lados – afirma Aldo Machado dos Santos, produtor e coordenador da Câmara Setorial de Apicultura da Secretaria da Agricultura.
Segundo Santos, o objetivo não é sugerir que os produtos químicos sejam banidos, mas sim, apostar na orientação e em treinamentos, para que os agricultores possam fazer o uso de forma correta, tornando a relação com apicultores em “ganha-ganha”:
– Já existem estudos que mostram, inclusive, o efeito benéfico da polinização na produção de soja.
No ano passado, segundo a câmara setorial, cerca de 3 mil colmeias foram eliminadas – segundo registros informados, há ainda muitas situações em que os apicultores não reportam as perdas. E considerando apenas as abelhas utilizadas na produção de mel. Análises de laboratório indicaram que só em dois casos não havia resíduos do inseticida que costuma ser misturado com dessecante nas lavouras. O produto afeta abelhas.
– O grande problema é o fato de que a pessoa usa dessecantes das lavouras com produto para matar formiga e conter pragas de solo, o que é muito tóxico às abelhas. Sempre tem alguma deriva – pontua Aroni Sattler, coordenador do Laboratório de Apicultura da Faculdade de Agronomia da UFRGS.
Outra preocupação vem do uso dos chamados neonicotinoides, que são sistêmicos, penetrando na planta e permanecendo por um período de até 60 dias. O debate, neste caso, tem de ir além da culpabilidade.
Para permitir que as duas atividades continuem coexistindo, é preciso ação integrada, com conscientização de todos os atores envolvidos no processo de produção. E responsabilização nos casos em que a negligência, a imprudência e a imperícia comprometem a coletividade e a manutenção das espécies.