Engenheiro agrônomo de formação, com mestrado e PhD em entomologia e manejo integrado de pragas, Sebastião Barbosa, 74 anos, ingressou na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apenas três anos depois de sua criação, em 1976. Atuou em diferentes departamentos e desde 2006 estava aposentado. Passou ainda por órgãos como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e antes de ser escolhido para a nova posição, estava à frente da Rural Prosper consultoria.
No dia em que tomou posse, o mineiro falou na necessidade de parcerias com a iniciativa privada para driblar a escassez de recursos. Também destacou a importância de dar mais atenção ao Nordeste. Barbosa conversou com a coluna e voltou a falar desses e de outros temas. Veja a seguir trechos da entrevista.
Temos que trabalhar em cooperação com parceiros da academia e do setor privado.
SEBASTIÃO BARBOSA
Presidente da Embrapa
No início do ano, um pesquisador foi demitido após crítica de que a Embrapa havia se distanciado da vida real. O senhor acha que isso ocorreu de fato?
Vivemos em um sistema democrático. As pessoas têm direito a emitir opinião, e podemos discordar. Precisamos considerar que o Brasil mudou muito desde a criação da Embrapa. Naquela época, só existia a estatal. Hoje, há outros mecanismos junto ao agricultor. O que precisamos, neste momento, é nos integrarmos a esses outros mecanismos, inclusive com o setor privado. Isso não quer dizer que a Embrapa esteja se distanciado. Ao contrário. O ministro Blairo Maggi (da Agricultura) deixou claro que precisamos fazer esforço para nos aproximarmos dos produtores.
Hoje, qual o papel da Embrapa para o agronegócio do país?
No início da estatal, não havia tecnologia. O desenvolvimento da agricultura no Cerrado, região que passou a ser a maior produtora de grãos, é um dos maiores feitos da Embrapa. O Brasil passou de grande importador de alimentos a exportador. Mas o mundo mudou, e hoje existem muitos atores no agronegócio. Temos que trabalhar em cooperação com parceiros da academia e do setor privado. Não podemos seguir olhando para o retrovisor.
Como serão as parcerias com a iniciativa privada?
Existem muitos mecanismos. Agricultores grandes e pequenos podem ter um problema. Encomendam uma pesquisa e aí pagam os custos dessa pesquisa. A Embrapa pode oferecer seus laboratórios. Não é muito da nossa cultura, nos acostumamos a depender da ajuda do governo.
Como avalia o novo processo de escolha do presidente ?
Passei por ele, não fica ético avaliar. Tenho certeza de que foi um processo muito limpo. Não tenho protetor político. A Embrapa precisa se manter longe da política. Participei apresentando meu currículo. Cheguei ao final, à lista tríplice, em que fomos entrevistados longamente.
O senhor dará continuidade ao processo de modernização?
Precisamos fazer um esforço ainda maior de aproximação com o agricultor, que é nossa razão de existir. Estamos nos relacionando com os gestores de todas as unidades que temos no Brasil, de Roraima ao Rio Grande do Sul. Esses gestores estarão se reunindo com a diretoria da Embrapa.
No governo da presidente Dilma Rousseff, a Embrapa instalou escritórios na África. Há algum plano de voltar a se aproximar do continente?
Trabalhei bastante tempo na Embrapa no Nordeste. E lá tem um ditado que diz que quando a farinha é pouca, tenho de cuidar do meu pirão primeiro. Temos muita carências de chegar aos agricultores pobres. A Embrapa tem a tecnologia, podemos, sim, participar (na África), mas com organismos internacionais.
Qual marca o senhor pretende deixar na sua gestão?
Não tenho desejo de deixar a minha marca. Vou trabalhar com 10 mil empregados da Embrapa. Vamos tentar descentralizar as decisões. Precisamos fazer com que a pesquisa chegue ao produtor, com produtos que possam trazer inovação ao setor agrícola. No Rio Grande do Sul, temos quatro unidades da Embrapa, das quais somos muito orgulhosos. São técnicos de muito valor, muito bem treinados.