O Brasil tem dois caminhos para tentar reverter a taxação da China ao frango brasileiro. Um deles é mais “curto” e objetivo. Os chineses deixaram aberta a possibilidade do chamado compromisso de preço, em que a indústria promete não vender o produto por menos de determinado valor. Essa negociação seria empresa por empresa. E eliminaria as tarifas, que chegam a até 38,4% e já estão valendo.
– É uma ação pragmática, para fazer o negócio andar – avalia Ricardo Santin, vice-presidente de mercado da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A outra possibilidade é ir à Organização Mundial do Comércio. Opção mais demorada e que passa por articulação do governo federal.
O fato é que a decisão dos chineses vem em péssima hora para o setor de proteína animal.
O segmento já vinha sofrendo com os efeitos das operações Carne Fraca, da suspensão imposta pela União Europeia a 20 frigoríficos de aves, da greve dos caminhoneiros e da tabela de frete, que tem paralisado o mercado de grãos e encarecido o custo de produção (leia mais abaixo). Além disso, o milho, um dos principais insumos, se valorizou, ampliando os gastos.
– O real impacto da medida dos chineses só saberemos daqui a um tempo. Mas isso tudo onera, aumenta custo e nos faz perder competitividade. O Brasil é hoje o maior exportador de frango, mas tem os Estados Unidos na nossa cola – observa Nestor Freiberger, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) e diretor-presidente da Agrosul, uma das sete indústrias do Rio Grande do Sul habilitadas para exportar à China e, portanto, afetadas pela medida.
Em alguns casos, diz Santin, a venda do frango brasileiro, que ficará mais caro, pode encolher.
A resolução chinesa veio em decorrência de investigação aberta no ano passado pelo governo local, a partir de solicitação de produtores. O argumento é de que o Brasil estaria praticando dumping, tese rechaçada pela ABPA.
– É uma medida comercial, para proteger a indústria local e, de certa forma, abrir espaço para negociação com os americanos – completa o vice-presidente de mercado da entidade.
Os EUA deixaram de embarcar por influenza aviária, já superada.
O Brasil é o maior exportador mundial de frango. No ano passado, despachou 391,4 mil toneladas para a China, equivalente a 9,2% do total embarcado no período.