País poderá conquistar novos negócios se mantendo livre da doença ou ter mercado mundial fechado, caso tenha um surto
Incólume até hoje à influenza aviária, o Brasil elevou o nível de alerta com a confirmação de focos da doença no início do ano no Chile, de olho tanto nos elevados prejuízos caso também seja atingido pela enfermidade como nas vantagens comerciais de continuar fora do mapa global do vírus. A importância conferida ao tema é simples de entender. Maior exportador de carne de frango, o país correria o risco de ver o mercado mundial fechado por vários meses caso um surto chegue a ser verificado no território nacional, causando perdas bilionárias para o setor. Por outro lado, continuar a ser o único grande produtor mundial sem episódios abre a possibilidade de conquistar ainda mais clientes em cenário de aumento do número países infectados.
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, observa que, até hoje, o país que conseguiu mais rapidamente erradicar a doença e voltar ao mercado internacional foi o Chile, em 2002, um trabalho que levou 10 meses. Depois, a Tailândia, que despendeu dois anos. Vale lembrar que, somente o ano passado, o Brasil exportou o equivalente a 32% da produção, em valor de US$ 6,85 bilhões. A conta das perdas é acrescida ainda dos custos para controlar o vírus. O México, por exemplo, desembolsou US$ 4 bilhões nos últimos 18 anos, cita Turra.
No caso gaúcho, o baque seria proporcionalmente maior, lembra o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger. O Estado manda para o Exterior 45% da produção. Em 2016, foram 750 mil toneladas, que geraram receita de US$ 1,5 bilhão.
– Fechar as exportações para o Rio Grande do Sul seria uma catástrofe. Aqui no Estado, são 10 mil famílias de produtores integrados – resume Freiberger, lembrando ainda que, em todas as cadeias ligadas à avicultura, são cerca de 900 mil pessoas no Estado.
Brasil pode ampliar produção em 1 milhão de toneladas
O manutenção do atual status sanitário, porém, deixa o país em uma situação privilegiada, capaz de alavancar ainda mais as exportações. Em 2015, quando os Estados Unidos registraram focos de influenza, o Brasil já tirou proveito.
– Os Estados Unidos perderam 16% do mercado externo, cerca de US$ 1 bilhão por ano, e o Brasil capturou praticamente tudo. O México não importava uma grama de carne de frango do Brasil. Depois da gripe aviária nos Estados Unidos, estamos vendendo 100 mil toneladas por ano para os mexicanos – observa Turra, acrescentando que mais mercados têm procurado o Brasil nas últimas semanas devido ao crescimento de casos no mundo.
No momento, mais de quatro dezenas de países – principalmente na Europa, África e Ásia – têm casos da enfermidade notificados à OIE. Mesmo que em sua maior parte não sejam grandes exportadores, juntos somam vendas externas de aproximadamente 650 mil toneladas anuais, espaço que poderia ser ocupado pelo Brasil. Para a ABPA, não seria nada extraordinário para as indústrias brasileiras conquistarem pelo menos 50% desse volume de forma rápida. Se houver demanda, a produção nacional poderia ser acrescida em 1 milhão de toneladas.
Atenção com cargas chilenas
Com a chegada do vírus ao Chile, país que tem um comércio significativo com o Brasil, com movimentação de cargas principalmente rodoviárias, o governo federal ordenou a intensificação das medidas de vigilância epidemiológica e de prevenção. A orientação é redobrar a atenção para possíveis sintomas compatíveis e impedir a entrada de pessoas estranhas nas granjas comerciais. Outra grande preocupação é com os locais onde há passagens de aves migratórias. Como a Lagoa do Peixe e o Taim, no sul do Estado. A ordem é se precaver para depois não precisar remediar, ressalta Freiberger.
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Como um dos principais produtores e exportadores do Brasil, o Rio Grande do Sul também busca aumentar o nível de vigilância. Por serem ponto de passagem de mercadorias que vêm do Chile por via rodoviária, os postos de fronteira de Uruguaiana e São Borja têm atenção especial. Responsável pelo Programa Nacional de Sanidade Avícola do Ministério da Agricultura no Estado, a fiscal agropecuária federal Taís Oltramari Barnasque explica que, nestes pontos, a orientação é pedir para que as transportadoras apresentem uma declaração de que os caminhões passaram por limpeza e desinfecção antes da partida rumo ao Brasil, além de orientarem motoristas a não visitarem propriedades rurais no Chile nem ingressarem no Brasil com produtos de origem animal e vegetal para consumo próprio, por exemplo. A maior preocupação é com cargas oriundas da região de Valparaíso, onde foram confirmado focos de influenza aviária.
Em outra frente, nas próximas semanas será feita uma incursão em propriedades vizinhas à Lagoa do Peixe para coletar material de aves domésticas de propriedades localizadas em um raio até 10 quilômetros da reserva.
– Vamos mandar equipes a campo a partir da segunda semana de fevereiro. Cerca de 200 propriedades serão visitadas. Em julho, será a vez do Taim – diz Taís.
O presidente da Asgav, Nestor Freiberger, afirma que a mobilização para mitigar os riscos de introdução da doença inclui ainda a restrição da entrada de visitantes em locais como frigoríficos e fábricas de ração, além das propriedades. Aves de descarte, como as destinadas à produção de ovos e que encerram sua vidas produtivas, também não vão mais ser abatidas em outros Estados. O presidente da ABPA, Francisco Turra, adianta que o Ministério da Agricultura deve divulgar na segunda-feira o resultado do monitoramento periódico da sanidade de aves de criatórios comerciais, de subsistência e de espécies migratórias, mais uma vez sem detectar circulação do vírus no país.
OS CUIDADOS NO SETOR
– Evite a entrada de pessoas estranhas na unidade produtora (granjas e indústrias). O simples contato de uma vestimenta contaminada pode infectar o lote. Não visite outras granjas.
– Lave e desinfete veículos e equipamentos antes de entrar na propriedade. Principalmente se tiver contato com outras aves ou seus donos.
–Use calçados e roupas limpas ao entrar na propriedade e os desinfete com frequência durante o trabalho. Ao manipular as aves e seus produtos, utilize equipamento de proteção – como máscaras e luvas – e lave as mãos com água e sabão após o contato.
– Evite contato das aves do criatório com outras espécies como como patos, marrecos, gansos, perus, pássaros silvestres. Animais como cães e gatos também devem se manter afastados.
– Não utilize água de rios ou fontes descobertas. Use água tratada para consumo das aves e para nebulização.
Fonte: ABPA
DE OLHO NOS SINTOMAS
O Ministério da Agricultura alerta para a necessidade de ficar atento aos seguintes sinais nos animais:
– Aumento repentino de mortalidade das aves num período de 72 horas.
– Secreção ou corrimento ocular e nasal, tosse, espirros, diarreia e desidratação.
– Depressão severa, apatia, diminuição ou parada no consumo de ração, descoordenação motora (sintomas nervosos), andar cambaleante e cabeça pendendo para o lado.
– Queda drástica na produção de ovos, ovos desuniformes, de casca deformada.
– Hemorragias nas pernas, inchaço na região dos olhos, da cabeça e pescoço, inchaço e coloração roxo-azulada ou vermelho-escura na crista e na barbela.
O que fazer:
– Caso estes sinais sejam identificados, deve-se evitar o contato com as aves suspeitas, isolar a área e procurar o veterinário do órgão Estadual de Defesa Sanitária Animal ou da Superintendência Federal de Agricultura no Estado.