Diante das evidências de que a União Europeia anunciará nesta quarta-feira (18) o descredenciamento de unidades da BRF e de outras marcas para o embarque de carne de frango, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, resolveu se antecipar e afirmou que o Brasil vai para a briga com o bloco. Abrirá um painel na Organização Mundial de Comércio (OMC) porque alega que a barreira imposta é, na verdade, comercial, apesar do pretenso argumento técnico:
— Estão aproveitando para nos tirar do mercado em nome da sanidade, o que não é verdadeiro.
No mês passado, logo após a Operação Trapaça — terceira fase da Operação Carne Fraca, que tinha a BRF como alvo —, o ministério determinou autoembargo a unidades da empresa. Fez isso com o intuito de se antecipar, porque avaliava que seria mais fácil o Brasil levantar a própria suspensão do que derrubar eventual barreira do bloco. Mas a estratégia acabou não dando certo.
Um time de técnicos e o próprio ministro estiveram em Bruxelas, mostrando que todas as providências haviam sido tomadas. Não foi suficiente para demover uma ação do bloco.
Além das unidades da BRF, outras oito empresas também estão na lista das que devem ser desabilitadas. No total, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), 59 frigoríficos tinham aval para embarcar carne de frango à UE. Mas esse número deve cair, com recentes descredenciamentos e a medida a ser confirmada nesta quarta – mais de 30 empresas, no total, ficariam excluídas.
Nessa guerra comercial com o bloco, destino de 7,6% das exportações brasileiras de frango, o Brasil tem muito a perder. Desde o autoembargo, a carne que deixou de ser exportada fez o mercado interno inchar. O resultado é que as empresas já estão fazendo ajustes na produção. A BRF anunciou férias coletivas nas unidades de Rio Verde (GO) e Carambeí (PR), a partir de maio. As unidades de Mineiros (GO) e de Capinzal (SC) também tiveram readequações. E a Aurora anunciou férias coletivas em unidade de Santa Catarina, em junho. O temor é de que a crise não seja resolvida e esses trabalhadores acabem não retornando.
— Ainda temos esperança de que tenha algum pedido para postergar a decisão. Mas se a situação não for revertida, fala-se na perda de 15 mil postos de trabalho no chão de fábrica e de 30 mil a 40 mil na cadeia produtiva — alerta Ricardo Santin, vice-presidente de mercado da ABPA.
A entidade já contratou advogado para subsidiar o governo na ação a ser movida na OMC. Mas essa disputa, que ainda precisa de aval do Ministério das Relações Exteriores, não tem solução rápida.