A distribuição irregular da chuva do fim de semana na Campanha e Zona Sul não alterou o quadro das duas regiões, que continuarão a sentir a falta de precipitações nos próximos dias, com reflexo nas lavouras e na pecuária. A situação já se caracteriza como seca, e não apenas estiagem, diz o meteorologista Celso Oliveira, da Somar Meteorologia.
A única previsão de volta da umidade é para o dia 26 deste mês, mas com acumulados pequenos, em torno de 15 milímetros.
– Podemos considerar que é uma seca, porque é persistente. Em Bagé, de novembro até agora, choveu 160 milímetros. O normal seriam 420 milímetros – compara Oliveira.
O norte do Estado, melhor servido de chuva nos últimos meses, continuará em situação mais confortável. Não são esperadas precipitações abundantes, mas suficientes para manter em bom estado as lavouras de soja, avalia Oliveira.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), que faz prognóstico apenas para sete dias, também diz não existirem chances de chuva para a Metade Sul no prazo de uma semana. Enquanto isso, as temperaturas seguem em elevação. Assim, a pouca umidade do solo evapora de forma mais rápida. Segundo a meteorologista Marília Nascimento, do Cptec, há chance de chuva apenas para o noroeste do Estado, a partir de segunda-feira.
Oliveira observa que ao menos há a boa notícia de que o La Niña deve terminar no outono, estação caracterizada pelo aumento das precipitações.
– Com isso, há a expectativa de que aumente a frequência da chuva, o que pode ser bom para pastagens e culturas de inverno, mas talvez não seja suficiente para aumentar o nível das barragens – observa Oliveira.
O déficit hídrico fez a Emater calcular em R$ 350 milhões as perdas apenas com a lavoura de soja nos 22 municípios sob influência do escritório Regional de Pelotas. O cálculo leva em consideração uma produtividade inferior a 40 sacas por hectare. No início da safra, o esperado eram 55 sacas.
Com vários municípios em situação de emergência, Campanha e Zona Sul foram beneficiadas de forma desigual pela chuva do fim de semana. A umidade do solo até melhorou, como mostra o mapa da Somar Meteorologia (imagem acima). Com a volta do calor e a falta de novas precipitações, o quadro pode voltar a se agravar.
Em Canguçu, choveu 50 milímetros. Em Bagé, 30. Em outros municípios, bem menos. Em Jaguarão, somente cinco milímetros. No Chuí, apenas um. Pelas cores no mapa é possível observar a variação da quantidade de água na terra. É maior no Norte e vai diminuindo em direção ao Sul.
Lavouras argentinas
Enquanto no Brasil órgãos oficiais como IBGE e Conab elevaram, semana passada, a previsão de colheita de soja, na vizinha Argentina, segundo maior produtor da América do Sul, a situação é outra. Na maior parte das regiões de cultivo o problema é a seca, mas ao norte do país também há estrago por excesso de chuva. Consultorias privadas estimam que a safra pode cair para 47 milhões de toneladas. O esperado, inicialmente, era um volume de 57 milhões de toneladas.
É um dos principais fatores que afeta, nos últimos dias, as cotações em Chicago.