No mundo contemporâneo, em que o aumento da produtividade mais do que uma conquista é uma necessidade, a recomendação para que se coloque o pé no freio causa surpresa. Pois diante da atual crise de preços no leite, essa foi a recomendação feita pelas entidades que integram o Conseleite do Rio Grande do Sul. A orientação é reduzir 10% da produção diária gaúcha, de 12,5 milhões de litros. A decisão foi tomada por representantes de indústria e de produtores que fazem parte do conselho. Como em novembro houve reação no preço de referência do litro de leite, a expectativa era por uma retomada, mas o recuo em dezembro foi um verdadeiro banho de água fria. O valor projetado é de R$ 0,8369 _ 3,83% abaixo do consolidado do mês anterior.
Do mercado, os sinais também não são positivos. O período de festas e de férias escolares costuma ser de redução no consumo do alimento.
– Nossa produção vinha crescendo e o consumo não estava acompanhando. A orientação para reduzir a produção mostra o tamanho da gravidade. Precisamos ter planos para quese possam voltar a fazer compras governamentais – afirma Alexandre Guerra, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat-RS).
A iniciativa do governo, formalizada na semana passada, e permitirá a compra de produto de 31 cooperativas gaúchas. A quantidade, cerca de mil toneladas, é considerada insuficiente, no entanto, para enxugar o mercado na proporção necessária.
– A perspectiva para os próximos meses não é boa. Precisamos adequar a produção para que tenhamos recuperação de mercado – pontua Jorge Rodrigues, presidente da Comissão de Leite da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
O descompasso entre produção, que cresceu 5%, e consumo, que no caso dos lácteos caiu 4% no primeiro semestre e 2% no segundo, contribuiu para que se chegasse à atual situação. Reflexo da crise econômica, que corroeu o poder de compra.
Há ainda outros problemas apontados. É o caso da entrada de leite de outros países, em especial do Mercosul, o que chegou a motivar a suspensão temporária das compras do Uruguai – o governo brasileiro foi investigar a denúncia que o país vizinho estivesse fazendo triangulação.
A atuação da indústria frente ao quadro, no entanto, também é criticada. Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) entende que a postura das empresas de "rifar" o leite também é prejudicial.
– Essa sugestão de reduzir a produção é meramente política, para dourar a pílula. Todas as pessoas com quem falo já reduziram a produção mais do que isso – garante Jorge Fonseca da Silva, presidente da Associação dos Produtores de Gado Holandês (Gadolando).