Enquanto grupo de técnicos do Ministério da Agricultura tenta esclarecer, até sexta-feira, no Uruguai, a suspeita de triangulação do leite exportado ao Brasil, o preço do alimento começa a dar os primeiros sinais de reação. Essa reversão da curva negativa no leite UHT no atacado não pode ser atribuída, no entanto, à decisão brasileira de suspender as importações uruguaias, embora a medida tenha efeito psicológico positivo.
É a queda na produção de leite que ajuda a explicar essa retomada de preços. No Rio Grande do Sul, o volume de outubro será 8% menor do que no mês anterior – quando ainda era período de safra. No país, a estiagem registrada em outros Estados produtores também reduz a quantidade disponível.
– A reação começou na última semana.
A indústria está recuperando o preço – explica Alexandre Guerra, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do RS (Sindilat).
Para o dirigente, a medida do governo brasileiro ajuda a tirar a pressão do leite UHT, o que é importante para a retomada. Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) e do Instituto Gaúcho do Leite (IGL), aponta que o retrato ainda é de queda no Conseleite – no valor projetado para setembro, o recuo é de 4,4% em relação ao consolidado do mês anterior.
No auge da crise, a queda chegou a R$ 0,60 por litro para a indústria e, em média, R$ 0,35 ao produtor, segundo Guerra. Entre o pico e o menor preço registrado neste ano, a diferença é de 30%.
– Temos reunião no Itamaraty, para tratar do nosso pedido para implementação de cotas para o produto uruguaio – acrescenta Joel.
O zootecnista da Emater Jaime Ries lembra que a recuperação no valor aparece primeiro à indústria para depois chegar ao produtor.
– A alta no UHT é um forte indicador de reação. Algum reflexo deverá ser sentido já a partir do próximo pagamento, entre 10 e 15 de novembro – estima Ries.