Acostumados com o sobe e desce do preço do leite, normalmente causado por problemas climáticos ou por períodos de entressafra, produtores e indústria se veem agora impactados por fatores econômicos do país. A instabilidade nos últimos meses levou os consumidores a diminuírem o consumo da bebida, principalmente de derivados do produto – com maior valor agregado. Nos últimos três meses, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (27) pelo Conselho Estadual do Leite (Conseleite), o valor de referência do litro pago ao produtor caiu 8,09%.
– A crise desaqueceu o comércio. Além disso, não tivemos um longo período de frio que estimulasse o consumo de leite – explica Alexandre Guerra, presidente do Conseleite e do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat).
O movimento é puxado pela baixa de 6% no valor do leite UHT, de 3,5% no pasteurizado e de 3,4% no queijo mussarela. Para piorar o quadro, o produto de países do Mercosul entra com valor mais competitivo no mercado brasileiro.
– Não temos condições de competir com o leite importado – lamenta Guerra.
A expectativa é de que o valor tenha chegado ao "fundo do poço", visto que as pastagens prejudicadas pela estiagem e pela geada não sustentarão aumento de produção nas próximas semanas.
– Teremos desaquecimento da produção a partir de agora, o que ajudará a recuperar os preços. Embora a queda pareça positiva para o consumidor, amanhã ou depois essa conta retorna – diz Márcio Langer, assessor de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag).
Para regulação dos preços, o setor busca intervenção do governo federal, pressionando pela compra de 20 mil toneladas de leite em pó. Com a remoção de produto excedente, a esperança é de aliviar a pressão do mercado.
*Interina
Colaborou Vanessa Kannenberg