Impossível falar do agronegócio gaúcho sem mencionar Carlos Rivaci Sperotto, morto neste sábado (23). Nos últimos 20 anos, os dois se misturam e formam uma coisa só.
Foi à frente de uma das principais entidades do setor, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul), que nasceu esse personagem emblemático. Mas não foi apenas o longo tempo como presidente - ele estava no sétimo mandato - que o alçou à notoriedade.
Sperotto era um homem de opiniões fortes. Brigava com unhas e dentes pelas posições em que acreditava. Destemido e mandão, como ele mesmo se reconhecia, batia de frente com quem quer que fosse.
Foi pelas mãos dele que muitas conquistas do setor vieram. Como a renegociação das dívidas dos produtores no final da década de 1990 _ feito este que ele considerava o maior de sua gestão, como disse em entrevista sobre os 90 anos da entidade, comemorados neste ano.
Sperotto também teve papel fundamental para a adoção dos transgênicos no Rio Grande do Sul. E viveu momentos de tensão e polêmica. Como no foco de febre aftosa em Joia, no ano 2000, saindo em defesa da indenização dos pecuaristas.
Outro embate forte foi com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em razão da reforma agrária, que se intensificou durante o governo Olívio Dutra.
Ao longo dos anos, aprendeu, no entanto, que nem sempre a disputa era o caminho. E mais recentemente vinha trabalhando com o que chamava de política de resultados.
- A gente tem de saber ser mandão. Ser mandão sem agredir, sem ferir, oportunizando a busca da solução - disse ele em entrevista concedida a Zero Hora em 2015.
Nesta mesma conversa admitiu que, em casa, não dava, mas sim, recebia ordens.
- O Sperotto pai e avô é peão.
E mesmo diante da luta contra o câncer, não esmoreceu. Se manteve ativo, sempre acompanhando de perto o que acontecia na entidade.
No nosso último encontro, fez o que era de praxe. Disse, em tom taxativo: senta aqui, guria. Porque o Sperotto era assim. Não pedia licença para agir.