A pouco mais de dois meses do final do ano, o Rio Grande do Sul ainda tem silos abarrotados de soja, em volume bem acima do que costuma haver neste período do ano. Projeções de cooperativas e de cerealistas apontam que a quantia à espera de negociação é o dobro da que havia nesta mesma época em 2016. Como a safra de inverno está em plena colheita, e a de verão em período de cultivo, cresce a preocupação com a possibilidade de faltar espaço.
O cenário só não é mais alarmante porque a produção de inverno deverá encolher significativamente – a Companhia Nacional de Abastecimento projeta 1,8 milhão de toneladas de trigo, 28% a menos do que no ciclo anterior – e porque o volume de milho, que começa ser colhido em janeiro, também deve ser menor em razão da área reduzida da cultura.
– Existe uma angústia de faturamento e de espaço, porque estamos entrando no plantio da safra de verão e ainda tem muita soja, quase o dobro do ano passado, porque a comercialização foi muito lenta – afirma Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro).
Na Cooperativa Agrícola Mista de Nova Palma (Camnpal), o grão ainda ocupa 75% do espaço disponível para o armazenamento (foto acima), quando o normal costuma ser de 25%. Reflexo do mercado. Com a redução dos valores da commodity em relação a 2016, o produtor segurou o grão, à espera de melhores cotações.
– A soja é como uma moeda. Em vez de aplicar no banco, o pessoal deixa o produto estocado para o futuro – diz Euclides Vestena, presidente da cooperativa que tem no grão cerca de 50% do faturamento total.
Nas empresas o cenário é o mesmo: armazéns cheios. Segundo Vicente Barbiero, presidente da Associação das Cerealistas do Estado (Acergs), confirma que há apreensão grande como estoque existente:
– A comercialização é lenta.
Conforme Índio Brasil dos Santos, da Solo Corretora, cerca de 65% da produção de soja foi negociada, quando a média para esta época do ano costuma ser de 80%. As projeções são de que
o Estado vire o ano com estoque de 2,5 milhões a 3 milhões de toneladas, o dobro do que entrou em 2016 – cerca de 1,3 milhão de toneladas. Isso impactará a necessidade de armazenagem.
– O estoque é realmente alto, mas pela frustração da safra de inverno e pela menor área de milho, é uma coisa que deve se acomodar, é administrável – projeta Santos.