A cada nova chuva, a preocupação com o calendário de plantio de arroz no Rio Grande do Sul se intensifica. Semana a semana, em vez de melhorar, o panorama tem piorado em relação aos anos anteriores. Dados (veja gráfico) do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) mostram que o atraso na semeadura da cultura é o maior das últimas oito safras. Nem mesmo em 2015/2016, quando houve o maior El Niño dos últimos 50 anos, o percentual foi tão baixo quanto o de agora.
Novo levantamento sai amanhã, mas conforme o pesquisador do Irga Rodrigo Schoenfeld, não deve passar de 5%. No ano passado, na primeira semana de outubro, 36% da área total já havia sido cultivada.
A situação se complica porque a previsão do tempo para os próximos dias aponta precipitações. Depois que a chuva cessa, são necessários, em média, de cinco a seis dias para que o solo seque e o produtor consiga entrar com as máquinas para o plantio.
– Esse negócio de lavoura é que nem casamento. Se começa mal, vai mal até o final. Não tenho dúvida de que esse atraso reduzirá a produção – avalia Schoenfeld.
É porque, se o arrozeiro dá a largada depois do previsto, perde o período preferencial de plantio, atrasando todo o ciclo e concentrando a colheita.
E em 50% das lavouras do Estado são usadas cultivares de ciclo médio, que é “muito dependente da época de semeadura”.
O tempo tem papel fundamental no desenvolvimento.
– A planta de arroz é uma máquina de converter luz em grão. Por isso, tem de estar no período reprodutivo quando os dias são mais compridos. E temos isso de 15 de dezembro a 15 de janeiro – explica o pesquisador do Irga.
O cenário atual é preocupante e terá impacto nos produtores que plantam no cedo,”os mais organizados e capitalizados”, observa Tiago Barata, diretor comercial do Irga:
– A gente vem de um ano difícil economicamente para o produtor, que acabou diminuindo o pacote tecnológico. Já se esperava produtividade menor, mas diante do adiamento, teremos uma safra menor do que a do ano passado.
Vice-presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS), Alexandre Velho concorda: o volume colhido deverá diminuir, o que tem um aspecto positivo, que é regular a oferta. Diante desse descompasso no calendário, o dirigente reforça:
– É mais um fato para o produtor repensar, caso ainda tenha dúvidas, em reduzir a área.