Ao menos um dos pontos que comprometem a operação do polo petroquímico de Triunfo foi dragado. Mas o serviço — que seria responsabilidade do poder público — teve que ser conduzido por uma empresa, a Braskem, que concentra a maior parte da atividade produtiva do local. A dragagem emergencial foi no canal Furadinho, no Rio Jacuí, que é parte da conexão com o porto de Rio Grande. O trabalho foi feito pela STER Engenharia, contratada para retirar 67 mil metros cúbicos de sedimentos, acima da expectativa, que era de 55 mil metros cúbicos. O serviço custou R$ 3,7 milhões.
A solução, porém, é pontual e temporária, uma vez que procedimentos como esse devem ser feitos regularmente e há outros pontos críticos. A Braskem aponta pelo menos mais quatro: Piava do Meio, Pedras Brancas, Canal Leitão (próximos a Porto Alegre) e o canal da Feitoria, próximo a Pelotas. Dragá-los solucionaria 80% dos problemas da navegabilidade deste ponto da hidrovia ao longo da Lagoa dos Patos.
Nesta semana mesmo, um navio encalhou no canal de Itapuã, que também precisa de desassoreamento. A embarcação impede que outras passem, inclusive quatro navios da própria Braskem.
— Pela nossa programação logística, temos até este sábado (2) para esse navio sair e liberar a passagem das nossas embarcações — diz o gerente de Relações Institucionais da Braskem no Rio Grande do Sul, Daniel Fleischer.
Presidente da Associação de Hidrovias do Rio Grande do Sul (Hidrovias RS), Wilen Manteli oscila entre a indignação e a desesperança. São promessas e prazos não cumpridos ao longo dos anos, nos quais as "estradas de água" são deixadas de lado pelo poder público.
— Se não removerem, outras embarcações não poderão ir para ou vir de Rio Grande. Precisamos de um novo Dom João VI para abrir a lagoa para o nosso comércio. O descaso chega a ser debochado — desabafa Manteli, lembrando que, quando foi criado o polo petroquímico de Triunfo, a contrapartida do Estado era exatamente garantir a navegabilidade.
Os pontos críticos levantados pela Portos RS ainda em agosto se mantêm (veja no infográfico), mas a situação vem se agravando, de acordo com a empresa pública do Estado. A dragagem estava atrasada ainda antes da enchente, mesmo que o recurso tivesse sido liberado ainda pelo ex-governador Ranolfo Vieira Júnior, que assumiu quando o governador Eduardo Leite se afastou para a campanha eleitoral. O secretário estadual de Logística e Transporte, Juvir Costella, chegou a dar prazos à coluna. A inundação, porém, deixou o serviço - atrasado - mais caro e trabalhoso, com um custo que saltou de R$ 180 milhões para R$ 500 milhões. O governo federal disse que iria bancá-lo, mas ainda está em fase de estudos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Presidente da Portos RS, Cristiano Klinger diz que, em uma reunião na última semana, o Dnit afirmou estar juntando as informações necessárias, das batimetrias à licença ambiental — já obtida —, para contratar o serviço. Porém, não foi definida data para início dos trabalhos.
— Foi dito que a intenção é que ocorra ainda em 2024 — conta.
A coluna aguarda para conversar com o Dnit na próxima semana para um novo posicionamento. Há cerca de um mês, o superintendente, Hiratan Pinheiro da Silva, falou ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha:
— Os primeiros dados não eram suficientes para definir o volume de material para remoção, mas a batimetria do Dnit já foi feita. Nossa programação era contratar em setembro, faltou documentação das empresas. Devemos ter nas próximas semanas a aprovação para poder contratar — disse na ocasião.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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