O jornalista Guilherme Jacques colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço.
Rede de supermercados mais atingida pela enchente na região metropolitana de Porto Alegre, a Unisuper mudou seu centro de distribuição de lugar, reabriu a primeira das nove lojas destruídas pela enchente e planeja os próximos passos. A reconstrução, porém, está sendo feita quase do zero. Presidente da rede, Sandro Formenton, diz que está aprendendo a conduzir este processo, financiado apenas com capital próprio. A seguir, ele fala sobre os prejuízos, planos e dificuldades da empresa neste momento.
Quais foram os prejuízos da enchente para a Unisuper?
Nosso centro de distribuição no bairro Navegantes, em Porto Alegre, foi totalmente atingido, a água dentro dele chegou a seis metros. Só no dia 1º de agosto, conseguimos voltar a operar em um novo local. Nove das 22 lojas próprias foram destruídas (há outras 23 licenciadas, que operam com a bandeira e estrutura da rede). Nas últimas semanas, reabrimos a primeira delas, que é a loja da Avenida Brasil, no bairro São Geraldo. Calculamos um prejuízo geral de R$ 90 milhões, sem contar o que deixamos de faturar. Estamos há 90 dias com 30% do faturamento previsto e acreditamos que possa levar mais de um ano para restabelecer o que seria considerado normal.
No momento mais crítico da cheia, a empresa fechou um acordo para não demitir funcionários. Em que pé está a situação dessas pessoas?
Temos 1,2 mil funcionários diretos e 800 foram atingidos. Fechamos acordo de lay-off com 600 deles em Canoas e Porto Alegre. Em cada caso, há uma regra, um tempo mínimo em que temos que manter essas pessoas assim que os contratos forem retomados, o que vai começar a acontecer. Nossa preocupação agora é como fazer isso sem ter lojas abertas para essas pessoas trabalharem e sem ter faturamento. Hoje, ainda não temos um plano. Tudo depende do ritmo de abertura das lojas que estão fechadas. Em cada uma, consigo colocar cerca de 50 a 70 pessoas.
E como está o plano de reabertura de lojas?
Reabrimos a loja da Brasil. Vamos reabrir a da A. J. Renner, no Humaitá, no dia 22. Mas toda a nossa reconstrução está sendo feita com capital próprio, dos sócios. Não conseguimos um só real de empréstimo, então estamos fazendo tudo com muita cautela. As nove lojas atingidas eram as de maior faturamento. Nos bairros Rio Branco, Harmonia e Mathias Velho, em Canoas, vamos reabrir uma em cada e ver como vai se desenvolver, se teremos clientes, porque são lugares que ainda têm baixo movimento.
O centro de distribuição mudou de lugar, mas segue no bairro Navegantes. É uma mudança provisória ou definitiva?
É algo que também estamos avaliando. Fechamos quase que um acordo de cavalheiros para alugar o espaço que era utilizado pela Lojas Colombo, que mudou para Nova Santa Rita. Recém conseguimos iniciar a operação lá, que também foi atingido pela água, mas menos. Foi apenas um metro. Lá é mais alto e mais novo o espaço.
A empresa buscou as linhas de crédito que foram criadas pelo governo? Como foram as tentativas?
Nosso faturamento é maior do que R$ 300 milhões, então nossa tratativa não é com os bancos que operam, e sim com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). E, apesar de toda a atenção que recebemos do ministro (da Reconstrução) Paulo Pimenta e dos funcionários do BNDES, não conseguimos nada. Eles estão jogando com o regulamento embaixo do braço, sem qualquer flexibilização. Assim, não há condições de conseguirmos qualquer coisa.
Como está sendo o desafio de capitanear essa reconstrução?
Eu fico até sem palavras. Sabe como são os gringos, a emoção aflora. Comecei com 17 anos, junto com meus irmãos de 14 e 13 anos, em 1990, com um mercado familiar. Em 2010, compramos a Unisuper que tinha sido criada em 2000. Faz só três meses que tudo aconteceu, mas parece que estamos trabalhando há anos. A força vem da família e dos colaboradores. Meus gerentes, que eu brinco que estão acostumados a trabalhar de sapato social, passaram 60 dias com bota de borracha ajudando na limpeza, muitos atingidos. Mas também tem uma sensação de impotência. Esperava que recebêssemos mais apoio. Não devemos nada, pagamos impostos e é frustrante não conseguir um empréstimo, algo que pagaríamos de volta.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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