São dezenas de relatos enviados à coluna por empresas que não conseguem acessar programas do governo federal e do governo estadual. Os principais problemas são com os Pronampes nacional e gaúcho (programas de crédito para pequenas empresas), com as linhas de crédito do BNDES e com os salários-mínimos que seriam pagos a trabalhadores de empresas atingidas para complementar a remuneração. A coluna trouxe alguns exemplos no Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. Já soube depois que alguns problemas foram resolvidos, pois os empresários foram procurados pela instituição financeira.
Infosul
Infosul, do bairro São Geraldo, em Porto Alegre, vende planos de telefonia empresarial. Tem 38 funcionários e a água atingiu 1,2 metro no primeiro andar, com prejuízo de R$ 500 mil. O proprietário, Rodrigo Mello, tentou junto ao Sicredi o crédito do Pronampe da enchente, subsidiado pelo governo federal. Porém, com a fatura do cartão de crédito corporativo atrasada, não passou na análise de crédito. Depois, solicitou ao governo os dois salários-mínimos do programa criado para manter empregos. Chegou a ter a aprovação, mas, dois dias antes do previsto para o pagamento, em julho, o pedido foi colocado em suspenso. O status segue o mesmo até hoje.
— Mandei mais de 20 e-mails para o endereço que o Ministério do Trabalho disponibilizou. Cheguei a revezar com uma funcionária ligações para a central, esperei por horas e não fui atendido — diz Mello.
Aguardava liberação do Banrisul para R$ 150 mil que já estariam aprovados pelo Pronampe Gaúcho. A análise de crédito foi aprovada.
— O gerente me disse que era possível ver que eram pendências posteriores à enchente, o que não impediria o empréstimo.
Comunicação Impressa
Comunicação Impressa, indústria gráfica do bairro Navegantes, tem 80 funcionários e a água atingiu estoques, máquinas e veículos, com prejuízo de R$ 10 milhões. O proprietário José Mazzarollo buscou linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) via Banrisul. Apresentou certidões negativas de débitos, licenças, relações de funcionários e balanços.
— Além de uma garantia financeira de R$ 2 milhões para me emprestar um total de R$ 3 milhões. Só vão devolver a garantia daqui a dois anos quando eu terminar de pagar — relata.
O empresário usou reservas financeiras pessoais para retomar parcialmente a empresa.
Jetlog
Jetlog, operador logístico do bairro Floresta, em Porto Alegre, tem 32 funcionários e a água atingiu o primeiro andar, gerando prejuízo de R$ 35 milhões com equipamentos e peças. Segundo o CEO Jamenson Nascimento, um empréstimo de R$ 4 milhões, com recurso do BNDES, foi negado com o argumento de que a empresa não estaria na mancha de inundação.
— Temos bom score (pontuação de bom pagador) nos bancos, nenhum débito nem protesto. Tínhamos tudo encaminhado com Banco do Brasil e Santander, poderia escolher qualquer um para pegar capital de giro — fala.
A negativa de acesso ao crédito foi dada com base nas informações da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev). Porém, a Jetlog não consegue contestá-las:
— Foi uma mudança acertada a restrição para que só empresas atingidas acessassem, mas nós fomos e mesmo assim recusaram. Os bancos nos dizem que não podem fazer nada, só têm que obedecer.
MAR Foods
MAR Foods, distribuidora de alimentos de Esteio, com 100 funcionários, teve água até o teto nas suas duas unidades. O prejuízo com estoque e equipamentos chegou a R$ 13 milhões. O CEO Rafael Spader chegou a construir um planejamento com os R$ 10 milhões que tomaria de empréstimo dos recursos do BNDES para capital de giro. A solicitação, porém, foi negada por Banrisul, Caixa Econômica Federal e Itaú, sob a justificativa de que a empresa não estava na mancha de inundação.
— Não só estamos, segundo todos os estudos, como também temos rating (classificação de crédito) máximo com os bancos. Mas nem eles nem o BNDES podem fazer nada porque quem acusa isso é o sistema da Dataprev — lamenta, frisando que não consegue descobrir se há algum erro de cadastro ou de sistema, por exemplo.
Sob a mesma alegação, também teve recusado o pedido para que o governo federal pagasse os dois salários-mínimos aos funcionários:
— Tivemos que demitir 34 pessoas antes do anúncio do programa, mas isso não nos impedia de conseguir. O que nos impede é essa informação da mancha. Até presencialmente já fomos na Superintendência do Ministério do Trabalho e não conseguimos um retorno.
Casa Vera
Casa Vera é uma loja de calçados no bairro São Geraldo, com quatro funcionários, que teve água até 1,3 metro na cheia. Perdeu R$ 300 mil em estoque e móveis. O sócio Giovani Facchin buscou os recursos do Pronampe da enchente logo que foi lançado pelo governo federal. Banrisul solicitou atualização de cadastro, envio de certidões, comprovantes de faturamento e outros documentos.
— Nossa agência estava fechada por causa da enchente, então falava com o gerente por WhatsApp. Depois de enviar tudo, passei a perguntar, mas nem "bom dia" recebia de volta — reclama, citando que, nas últimas semanas, após o anúncio do Pronampe Gaúcho, tentou novamente, sem sucesso.
Com isso, Giovani buscou o Banco do Brasil e chegou a abrir uma conta, mas àquela altura, os recursos federais estavam esgotados.
— Agora, estou com tudo pré-aprovado lá, mas esperando que liberem os novos valores que foram prometidos.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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