O jornalista Paulo Rocha colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
Assim como uma praia, houve uma época em que guarda-sóis amarelos tomavam conta de parte do centro de Porto Alegre. Porém, o clima que predominava ao adentrar esse espaço remetia mais a um bazar persa, permeado pelo comércio de objetos diversos e por gritos de vendedores.
É um capítulo da história da Capital encerrado há 15 anos, com o surgimento do POP Center, popularmente chamado de "camelódromo" e que já teve nomes como Shopping do Porto e Centro Popular de Compras (CPC).
Prefeito à frente do projeto, José Fogaça recorda que a ideia de um centro de compras começou a partir de uma experiência que surgiu em Belo Horizonte. Após 20 anos como deputado federal e senador em Brasília, Fogaça iria concorrer em 2004 à prefeitura de Porto Alegre e ouvia sugestões de projetos para a cidade. Até que, em algum momento, a campanha abraçou a ideia de um shopping popular. Retirar os camelôs e seus guarda-sóis da Praça XV de Novembro, no Centro Histórico, não foi fácil.
— Um dia, caminhando pelo Centro, na campanha, eles (os camelôs) me cercaram junto a um muro da Praça XV. Eles queriam saber do que se tratava (o projeto) — lembra Fogaça.
Com uma equipe de quatro pessoas, a CEO do centro de compras, Elaine Deboni, tem o desafio de ampliar a ocupação do POP Center, que também sofreu com a pandemia. Dos 800 espaços, 180 estão vazios. A taxa de ocupação é de 77,5%.
Para ajudar a ampliar a procura pelo centro comercial, uma unidade do Tudo Fácil será aberta no terceiro andar, ocupando 600 metros quadrados. A inauguração será em 6 de fevereiro, três dias antes de o camelódromo celebrar seu aniversário.
Apesar de resolver o problema na época, vale ressaltar que, desde antes da pandemia, as ruas do Centro voltaram a receber ambulantes. Não é a mesma quantidade que há 15 anos, mas ainda acontece na Rua dos Andradas e nas avenidas Borges de Medeiros e Salgado Filho. O prefeito Sebastião Melo já chegou a dizer que o problema será resolvido com forte fiscalização após as obras no Quadrilátero Central.
Das ruas para o camelódromo
A coluna esteve no centro comercial e falou com comerciantes. Nos fundos, região onde mais há espaços vazios, a comerciante Lecí Siqueira Xavier, 66 anos, mantém uma loja de roupas. Ela está no local desde a inauguração. Antes, trabalhava como vendedora ambulante na Praça Osvaldo Cruz.
— Muitos "da rua" foram embora, mas eu ainda continuo aqui. Já tive a oportunidade de ir para as lojas da frente, pagando o mesmo, mas fiz minha clientela aqui. O pessoal vem direto, pois sabem onde estou. É assim há 15 anos — diz a lojista, que sente falta do fluxo de clientes que uma lotérica recém fechada no POP Center trazia para o negócio.
Perto da loja de Lecí, o comerciante Antônio Luiz, 63 anos, é dono de uma tabacaria, onde vende isqueiros, cinzeiros e até máscaras. Ele, que também está no camelódromo há 15 anos, antes trabalhava na Praça XV vendendo brinquedos, assim como o vizinho de loja Valdecir Fernandes, 49, que hoje vende vídeo games retrô no camelódromo.
Já a empresária Michelle Amorim chegou no POP Center em 2010. Com a mãe e o marido, montou a assistência técnica Smart Play, para conserto de celulares, em um pequeno espaço de quatro metros quadrados. Com o passar dos anos, a operação trocou de lugar mais de uma vez e hoje está no terceiro piso, em uma loja de 110 metros quadrados, e também conta com outra unidade no térreo. Só no camelódromo, emprega 50 pessoas, mas também possui pontos da marca no Shopping Iguatemi e no Pontal Shopping.
Competição com o digital
Como qualquer shopping center, o POP Center também tem o desafio de sobreviver em um mundo em que a internet abocanha fatias cada vez maiores do comércio. Segundo a CEO do POP Center, uma geração de permissionários já demonstra sintonia com os novos tempos, mesclando a vitrine da loja física com o e-commerce.
— Tem muito jovem trabalhando lá dentro, e eles têm isso (do comércio eletrônico) já com eles. A venda online é muito grande. O que eu digo é que eles também precisam ter uma loja física — diz a CEO do Pop Center.
Elaine também rebate questionamentos sobre a existência de vista grossa para a venda de produtos contrabandeados no local. Segundo ela, "cerca de 90%" dos comerciantes é formalizado.
— Quanto ao que é ilegal, é por conta e risco deles. Sempre que há denúncia, facilitamos o trabalho da Receita e da polícia em operações.
Colaborou Guilherme Gonçalves
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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