O crédito é, atualmente, um pepino. O governo federal sabe o quanto a falta e o alto custo dele estão travando o consumo das famílias, o investimento e o próprio funcionamento das empresas. Por isso, anunciou um pacote de medidas, mas elas não têm efeito imediato. No geral, elas buscam aumentar garantias, o que reduz risco, um dos fatores que formam a taxa de juro. Tem esse objetivo até mesmo o aumento do mínimo existencial – valor que deve ser preservado para o consumidor na negociação de dívidas –, de R$ 303 para R$ 600. Só que isso não é da noite para o dia. Quem empresta o dinheiro tem que acreditar, absorver e repassar que o risco de não receber diminuiu.
Vamos lembrar o que secou o crédito. Na base, está o aumento da taxa Selic pelo Banco Central para conter inflação, que passou de 2% para 13,75% em um prazo curto de tempo. Quem tomou crédito na pandemia viu o quanto ele encareceu. Para o juro básico cair, precisaria, agora, por exemplo, que o arcabouço fiscal e a reforma tributária andassem no Congresso, o que fica sob risco com a CPI do 8/1. Mas não é só o governo que precisa arrumar a casa. O setor privado tem sua parcela no que está deixando o dinheiro caro, que começa com o risco gerado pelo rombo da Americanas e termina com a sequência atual de medidas cautelares de empresas pedindo ao Judiciário suspensão de pagamento de dívidas, como o caso da Light. Aí, se forma uma bola de neve. Quando mais empresas em dificuldades, mais risco, mais caro o crédito.
Enfim, o pacote do governo federal não é imediatista. O próprio secretário de Reforma Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Barbosa Pinto, reconheceu isso na sua fala, mas defendeu a importância de ser estrutural.
— Tem muito cano entupido no crédito. Não são medidas imediatistas, são de longo prazo, para ficar. Precisamos ver o crédito no Brasil de uma maneira diferente. Pensamos só no setor bancário, mas não é a única parte — disse ele na apresentação.
O crédito, portanto, continua um pepino.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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