São tempos difíceis para o crédito. Primeiro, a taxa básica de juro, a Selic, está alta. Ela é usada como referência para as operações de empresas e pessoas físicas, que, com a elevação, ficam mais caras e restritas. Com reunião marcada para esta semana, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) só vai reduzí-la quando achar que não há mais ameaça forte à inflação. Havia, no ano passado, uma perspectiva de que começasse a cortar a Selic na metade de 2023, mas a pressão de alta de preços e o receio com as contas públicas do governo federal empurraram as previsões para o final do ano. Por enquanto, a pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com as apostas do mercado, aponta para um juro básico de 12,75% no final do ano. Ou seja, um corte pequeno e somente no médio prazo. Vai ajudar se emplacar essa nova âncora fiscal que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, colocou na mesa.
Outro ponto é a inadimplência. Com a inflação alta dos últimos dois anos, as famílias se endividaram para pagar até contas básicas. A inadimplência com juro alto fica mais difícil de enfrentar, porque as dívidas ficam mais caras. Além disso, o risco do crédito pesa na hora de definir as taxas que serão cobradas e até na decisão de não emprestar.
Há quem diga, porém, que a maior trava no crédito é o “efeito Americanas”. O rombo bilionário na contabilidade da gigante do varejo se arrastou por anos sem aparecer no balanço e passou pela auditoria PwC. Isso gera uma crise de confiança enorme. Além disso, muitos bancos lideram a lista de credores dos mais de R$ 43 bilhões de dívidas da recuperação judicial, que também inclui outros tantos fornecedores. Será que mais empresas maquiaram as contas? Será que a Americanas vai quebrar? Será que os fornecedores vão suportar? O efeito não atinge só o setor do varejo, chegou até a indústria.
E, como se não bastasse, veio a quebra de bancos nos Estados Unidos e a piora da crise no Credit Suisse. Ainda não se sabe qual o risco sistêmico disso nem a probabilidade de contágio de mercados. Mas a reação imediata é de aversão ao risco. Com isso, o crédito pisa no freio.
Enfim, o cenário do crédito é desafiador. Mas já foi pior.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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