O recuo da inflação na prévia de março (IPCA-15) era esperado, mas ele veio de "boa qualidade", conseguindo segurar o indicador mesmo com a alta da conta de luz e da gasolina com a volta de impostos. Na verdade, isso significa que preços que pesam no cálculo e são persistentes desaceleraram. O economista João Fernandes, da Quantitas Asset, destaca que os serviços cederam. Apesar de ser um claro sinal da desaceleração econômica, que aperta eventuais reajustes no segmento, abre uma fresta importante para o Banco Central preparar a redução do juro.
Falando em Selic, reproduzo uma frase interessante dita no painel da CDL Taquari pelo economista-chefe do Sicredi, André Nunes de Nunes: "a taxa de juro é ciência, não assembleia." Ou seja, ela precisa ser definida pelo Banco Central a partir de indicadores e modelos, buscando um equilíbrio entre inflação e atividade econômica. Não é assembleia, na qual pessoas de diferentes áreas votam pelo seu interesse próprio e ganha aquele que agradou mais. Claro que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem votação para definir o percentual final, mas são o presidente e diretores, que precisam se basear nas diretrizes da política monetária.
A pressão seguirá para que a Selic caia em maio, certamente. Mas, mesmo que não recue, é esperado que o Banco Central retire do comunicado a frase da discórdia, na qual diz que "não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado" e provocou a expressão "preocupante" do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Se a nova âncora fiscal agradar e emplacar, quem sabe um corte de 0,25 ponto percentual?
Só não vale o Copom manter a ameaça de alta para fincar pé contra os ataques do presidente Lula. Se realmente tem autonomia, não deve cair no jogo de provocações. A insegurança do empresário/investidor/consumidor para retomar gastos também é impactada pelo risco de novo aperto monetário. Sobre isso, tem a fala do presidente da Federasul, Rodrigo Costa, no mesmo evento em Taquari, de que o juro da operação de crédito é muito mais formado pela incerteza e pelo risco do negócio do que pela própria Selic. Ou seja, um cenário conturbado na política e entre as instituições brasileiras é mais prejudicial ao crédito do que o juro básico.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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