Como de costume, o comunicado do Banco Central explicando a decisão de manter a taxa de juro Selic em 13,75% ao ano foi muito sóbrio. Trouxe ponderações sobre as pressões de alta e de baixa na inflação que estão no horizonte. Reforçou sua preocupação com as contas públicas, citando a expectativa para o arcabouço fiscal e dizendo que a retomada de parte dos impostos federais da gasolina afasta incertezas do curto prazo.
Aliás, esta "comemoração" do Comitê de Política Monetária (Copom) já alimenta as críticas, como se a autoridade monetária gostasse de aumento da carga tributária. Na verdade, o Banco Central tem o mantra de que contas públicas desequilibradas desembocam em inflação, que, na atual condução da política monetária, é considerada pior do que o juro alto.
Porém, a maçã da discórdia parece estar em uma frase que ficou no comunicado. Em geral, o percentual que sai da reunião é amplamente previsto. O que quem acompanha de perto a política monetária busca é olhar a entrelinha do comunicado, comparando o que saiu, entrou ou ficou do comunicado da reunião anterior. E ficou a seguinte frase:
"O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado."
Ou seja, ela sinaliza que o Banco Central poderia voltar a subir a taxa de juro, o pior cenário atualmente, pois já está alta e a economia está travada. Apesar da frase, o mercado duvida que isso ocorra. Mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já tratou como "muito preocupante". Talvez ele esperasse que ela tivesse sido retirada do documento após as conversas que vem tendo com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a nova âncora fiscal. As entidades empresariais seguem com os comunicados já tradicionais que criticam o juro alto.
A grande dúvida mesmo é quando começará a redução da Selic, o que está muito ligado ao substituto do teto de gastos que está sendo costurado pelo governo federal. Pelas previsões de inflação, não seria antes de novembro. Este prazo, porém, seria cravejado de críticas até lá, inclusive as agressivas do presidente Lula.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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