O dólar tem flertado com o patamar de R$ 5. Já tem empresário segurando importação na expectativa. Mas será que cai mais? E se recuar, será que se mantém por lá? Câmbio é uma variável muito (mas muito) sensível. Para projetá-lo, é necessário observar o que mexe com ele.
Na próxima semana, temos dois acontecimentos importantes. Um deles é a reunião do Federal Reserve, o banco central norte-americano. Se ele aumenta o juro, atrai dólares e provoca desvalorização de outras moedas, como o real. Com a inflação dando uma segurada por lá com recuo do consumo, o que aumenta o risco de recessão, é possível que a autoridade monetária reduza o ritmo de alta. Isso estimularia a queda do dólar.
Por aqui, tem reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). A expectativa é de manutenção da taxa de juro Selic em 13,75% ao ano. A esperança é de que reduza no segundo semestre. Porém o risco fiscal temperado pelos R$ 36 bilhões de recomposição do ICMS para os Estados e mais as falas de Lula criticando a independência do Banco Central podem trazer alguma resposta no comunicado. Se sinalizar elevação de juro, é mais um fator a levar o real a se valorizar.
Sócio da Messem Investimentos, Rafael Rigotto ainda vê a economia norte-americana em recuperação, enquanto o Brasil tem problemas políticos e econômicos para enfrentar. Para ele, isso ainda fortalece o dólar.
- Um sinal positivo para o Brasil é a reabertura da China, o que valoriza as commodities. Projetamos dólar a R$ 5,30 na média do ano, com janelas de queda e estresses de alta - diz Rigotto.
Com exportações maiores, entram mais dólares no mercado brasileiro. Maior oferta, menor cotação.
Economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont ainda desconfia que o banco central dos Estados Unidos possa ter pulso firme na reunião porque a guerra contra a inflação não terminou. Caso haja fim do aperto monetário e alta das commodities, ele acredita em recuo do dólar, sim. Depende, claro, também do cenário brasileiro.
- Está bem difícil cravar de qual governo brasileiro estamos falando. Os sinais estão erráticos. Se é o Lula da Argentina ou o Haddad (Fernando, ministro da Fazenda) do Valor Econômico, que quer âncora fiscal. Então, depende. Mas se você colocar uma arma na minha cabeça, eu não compraria dólar. Acredito na força dos fatores globais - diz Chermont.
O dólar fechou a R$ 5,11 na sexta-feira (27). Subiu no dia, mas fechou a semana em queda.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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