A construção civil de Porto Alegre segue aquecida mesmo com inflação e juro altos. Em 2022, foram vendidas 5.436 unidades, um aumento de 24% sobre o ano anterior. Juntas, somaram R$ 5,1 bilhões, crescimento de 31%. Os lançamentos também pisaram no acelerador, com 4.387 unidades colocadas no mercado pelas construtoras, número 20,85% maior do que em 2021. O monitoramento é do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RS), em parceria com Alphaplan e Órulo. Vice-presidente da entidade e CEO da Melnick, Juliano Melnick analisou o resultado do setor ao programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha. Na entrevista, também atualiza e projeta novos empreendimentos da empresa. Confira trechos abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
O que sustenta o mercado aquecido?
Um pouco é fruto da própria pandemia, que mudou o jeito de nos relacionarmos com a casa. Muitas pessoas vieram a mercado buscar empreendimentos mais atuais, com sacadas, pátios, com área melhor para receber encomendas, coworking (espaço compartilhado de trabalho).
O hábito da pandemia, então, tende a ficar?
Calls, home office... São coisas que entraram e estão ficando. Às vezes, isso significa um apartamento com um cômodo a mais para fazer seu escritório ou espaço específico no condomínio. As compras online continuam e o prédio precisa estar preparado para recebê-las. Os novos apartamentos vêm atualizados, inclusive em design. A moda troca a coleção de verão para inverno. Na construção, é mais lento, mas há tendências novas ao longo dos anos. Hoje, tudo tem muito concreto e madeira. As áreas do condomínio são mais decoradas. Também há arquitetos de fora fazendo projetos daqui, enquanto os daqui fazem lá. É uma oxigenação de ideias. Podemos, por exemplo, levar a nossa churrasqueira para projetos em outros Estados.
E os preços?
Em Porto Alegre, o preço está deprimido se compararmos com outras praças ou bens de consumo. Em Curitiba, você pode adensar e construir mais alto, o que deixa as edificações mais baratas. Normalmente, praticava preços 20% menores do que em Porto Alegre, que tem um plano diretor mais restritivo. Agora, os valores estão iguais. Ou seja, lá acompanhou a alta dos custos. Aqui, não. Fizemos um estudo na Melnick que mostra que o preço dos carros subiu mais. Mas é uma janela de oportunidade para o consumidor.
Como a venda cresce com inflação e juro altos?
O mercado imobiliário serve, muitas vezes, para as pessoas depositarem suas economias em momentos de instabilidade como o das eleições, diferente, por exemplo, de investimento em ações. Elas sabem que o dinheiro está ali, é palpável. Ela passa na frente e diz "olha, eu tenho um apartamento nesse prédio". O mercado está muito forte em apartamentos compactos, que chamamos de estúdios. Muita gente compra para alugar, como complemento de renda. Outro segmento pujante é o de alta renda, com mais de 180 metros quadrados. É para uma parcela da população que depende menos de financiamento.
Quais os planos da Melnick para 2023?
Temos como um propósito transformar Porto Alegre com nossos empreendimentos que também são abertos ao público, com lojas e operações de saúde. Vamos seguir nesta linha, com um viés para a alta renda, que é o que a cidade tem absorvido mais com a alta do juro. Buscamos empreendimentos diferentes, que chamamos de "icônicos", não apenas mais um prédio para a cidade. O Pontal é um bom exemplo.
Outro é o Cidade Nilo, em parceria com o Zaffari, na frente da Praça da Encol. Qual o andamento?
Estamos no lançamento, e a obra deve começar neste ano ainda. É um pouco longa porque a parte residencial só começa quando a base comercial chegar na laje. Ele dialoga com a cidade, vai ter um supermercado do Grupo Zaffari dentro de um mall. Os bairros em volta acharão restaurante, farmácia e um tipo de comércio de um projeto muito diferente.
O que está previsto para o terreno cercado na Rua Duque de Caxias, no Centro Histórico, perto do Hotel Everest?
Estamos em fase inicial de projeto, que provavelmente terá uso misto, ou seja, com lojas e unidades residenciais. Ainda estamos pensando, é embrionário. Mas adianto que será icônico também.
O que mais a Melnick tem no radar?
Temos diversos canteiros de obra. Estamos em fase de lançamento do hotel V3rso By Emiliano no Nilo Square Garden. Neste ano, devemos colocar o nosso pé no bairro Moinhos de Vento com um empreendimento novo. Nós lançamos, no ano passado, um em Canoas que foi uma grata surpresa. Vendeu quase 80% na primeira fase. No nosso negócio, colocamos um produto na rua. Se ele responde, coloca outro. Se não, você segura um pouquinho. Não precisa lançar tudo ao mesmo tempo, pode cadenciar. Vamos observando como o novo governo e a economia vão se comportar. A construtora nunca pode desafiar o mercado, que é absoluto. Ele vai dizer se existe espaço para colocar mais imóveis. Quando não está receptivo, nosso papel é criar e oferecer novidades aos clientes, como a possibilidade de unir saúde com empreendimentos imobiliários. Tem que respeitar o mercado, mas não pode travar junto.
Assista à entrevista em vídeo:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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