Após um 2021 com inflação de dois dígitos, 2022 era para trazer uma normalização de cadeias econômicas. O ano passado, porém, teve de guerra a corte forte de tributos perto da eleição. A perspectiva para 2023 foi o tema da entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o coordenador das pesquisas de preços do Instituto de Economia da Fundação Getulio Vargas, André Braz.
Quais forças devem agir sobre os preços neste ano?
Temos uma missão bem difícil pela frente. Será um ano de ajuste fiscal e a forma como o governo vai conduzir determinará como a inflação vai se comportar. Sem ajuste fiscal ou sem uma explicação muito clara de onde os recursos vão sair para honrar os compromissos, vai gerar incerteza, o que traz desvalorização cambial e encarece tudo que importamos. Estimula as exportações, o que pode ser positivo, mas, em geral, desabastece a economia brasileira, o que também provoca aumento de preços. Na parte dos alimentos, não esperamos um desafio tão grande. Provavelmente, não haverá falta de chuva e o nível dos reservatórios está satisfatório, o que é bom para geração de energia. Quem sabe essa guerra chegue a um ponto final, trazendo oscilação menor em petróleo e alguns grãos, como milho e soja.
Qual a perspectiva para os combustíveis?
Os impostos federais devem voltar em algum momento. Não acho injusto cobrar da gasolina, por exemplo. Para mim, é um bem de luxo, que serve mais à classe média alta. Não é responsável pelo escoamento da produção agrícola, não afeta máquinas no campo, não compromete o transporte público. Agora, para o diesel, há necessidade de você fazer alguma política. O Brasil é intensivamente rodoviário. O etanol também merece atenção especial, por ser menos poluente.
Pode ter impacto do agravamento da crise de energia após o inverno europeu?
O preço do barril do petróleo é fundamental. Atravessando esse inverno, fica mais fácil para a Europa buscar uma negociação em uma estação do ano em que a dependência de gás é um pouco menor. Vejo também enfraquecimento da Rússia na sua relação comercial com outros países. Acho que vamos caminhar para um cenário mais favorável.
O juro é a principal preocupação das empresas hoje. A inflação no Brasil pode atingir um patamar que faça o Banco Central desistir de reduzir a taxa Selic e venha até aumentá-la?
O risco é pequeno, mas o juro vai permanecer alto por mais meses. Eu acredito que uma redução deve acontecer na reta final de 2023, quem sabe no último trimestre. Isso é ruim, porque penaliza a atividade econômica, significa volume menor de investimentos, de contratação e de renda para o trabalhador. A taxa de desemprego pode até avançar um pouco, por essa dificuldade de retomada. A expectativa é de que a economia tenha crescido algo em torno de 3% em 2022, mas agora as previsões são mais pessimistas, de um avanço de 1% ou abaixo, reflexo desse juro. Mas não é uma questão só acontece aqui do Brasil. Todo o mundo está passando por uma pressão inflacionária maior. Grandes economias, como a norte-americana, estão também subindo os juros. É um risco para nós, porque atrai investidores para essas nações que têm um risco fiscal menor, provocando desvalorização cambial aqui no Brasil.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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