Já faz algum tempo que os preços dos alimentos têm subido acima da inflação. Somente em 2022, a alta acumulada é quatro vezes o IPCA, indicador oficial calculado pelo IBGE. A indústria adota estratégias, inclusive a polêmica redução das embalagens, medida muito criticada até mesmo pelo empresário Marcos Oderich, presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentos e Bebidas do Rio Grande do Sul e diretor da Conservas Oderich. Confira trechos abaixo e, no final da coluna, a íntegra da entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha:
Qual a origem do atual aumento dos alimentos?
A análise é global, porque o Brasil é fornecedor de alimentos do mundo, inclusive Estados Unidos e Europa, que estão com inflação. Nossos custos dependerão muito das oportunidades que a nossa agricultura terá na exportação, por exemplo, de milho e soja, importantes nos preços das carnes e do próprio leite. Se a China estiver comprando grandes estoques, reflete diretamente nos nossos preços.
Quais são os impactos do clima?
Estamos quase no limite. Se houver chuva nos próximos dias, conseguiremos não comprometer a nossa agricultura. A falta de água é um problema crônico no Rio Grande do Sul. É inadmissível para um Estado com tanta abundância, um dos maiores com reservas de água doce do mundo.
Explosão da covid-19 na China e possível recessão na Europa e nos Estados Unidos terão reflexos aqui?
Ainda é um cenário nebuloso, principalmente sobre a China. Eu acredito que a situação alarmante lá dificultará o abastecimento de alguns países. E algo indescritível é o aumento do frete internacional marítimo. Nunca se imaginava que os valores se multiplicariam de forma tão acentuada. Nós, brasileiros, começamos a vender para mercados onde não conseguíamos competir, como feijão para o Caribe, que era abastecido por países asiáticos.
O cenário internacional tem reflexo enorme...
Acho que a China e Europa realmente precisarão de produtos brasileiros, o que manterá estáveis os preços desses grãos, ou talvez aumentar um pouco mais. Chegamos a ter óleo de soja valendo R$ 10 o litro porque a Malásia estava com problema de óleo de palma. Na discussão da inflação, há o componente da oportunidade de fazer negócio, gerar renda e aumentar resultados, fortalecendo algumas cadeias produtivas locais.
Qual o peso da embalagem no custo?
É determinante para algumas categorias, nas quais representa mais de 50% do custo. Isso gera oportunidades e desequilíbrios na formação de preço. Já o problema da falta de embalagens está equacionado.
O que acha da estratégia de algumas indústrias de reduzi-las, diminuindo a quantidade de alimento por unidade?
Nós (na Oderich), particularmente, não fizemos esse movimento, e tínhamos embalagens que custavam mais de 50% do produto. Reduzir 10%, 20%, 30% do peso das embalagens dá essa conotação de mascarar a inflação, de induzir o consumidor a comprar sem perceber que o produto está menor do que outro. É uma adequação do tamanho da embalagem para o poder de compra da população, mas eu acho o efeito negativo. Há um alto custo de materiais dos quais tu não te alimenta. Não concordo e vejo que cria uma distorção na análise por parte do consumidor desavisado, infelizmente.
Qual a perspectiva para os preços dos alimentos básicos?
O agro, felizmente, se fortaleceu, do pequeno agricultor familiar às grandes lavouras de soja, milho e algodão. Temos da cadeia da uva ao arroz. Acho que nunca se exportou tanto trigo. Vejo agora um período de estabilidade de preço, porque houve um incremento da produção interessante. Agora, temos que reavaliar o poder de compra da população. Também não sabemos como ficará o transporte do brasileiro, se o ICMS reduzido será mantido. Tivemos a lei da cabotagem recentemente, que poderá também ajudar nas grandes distâncias para transportes fluviais. Custos de energia e de serviços dependem do governo.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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