Principal nome da transição de Lula ligado ao meio ambiente, a ex-ministra Marina Silva alerta que a pauta da sustentabilidade no Congresso precisa ser trabalhada desde antes da virada do governo. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, ela listou oportunidades de negócios para o Brasil no desafio ambiental de economias maduras. Confira trechos abaixo e o áudio na íntegra no final da coluna:
A pauta ambiental passa muito pelo Congresso. Como vê isso com o perfil dos parlamentares a partir de 2023?
Já tem uma responsabilidade grande agora. Há questões já articuladas, como um pacote da destruição que não pode ser aprovado a toque de caixa porque tem que esperar a nova configuração do Congresso e as prioridades do novo governo. Não que esteja atrelado ao Executivo, porque tem autonomia, mas porque é necessária essa interlocução à luz das prioridades novas que não são mais da agenda da destruição. Outra questão é o orçamento de 2023, feito pelo atual governo que obviamente não tinha prioridade para a área ambiental e outras estratégicas da sociedade. Fizemos um movimento junto ao senador José Wellington (Dias), do Piauí, para que tanto o Fundo Amazônia quanto outros recursos de doação não entrem no teto de gastos. Esse dinheiro será fundamental para reestruturar as políticas ambientais. Ainda existem muitas coisas que o governo federal pode fazer do modo próprio. É só não mudar a legislação que temos, que já é muito boa.
O mundo tem grandes desafios ambientais, como a crise energética na Europa, que abrem oportunidades para a economia brasileira, mas há resistência de boa parte das empresas às exigências de sustentabilidade. O que o novo governo pode fazer?
Temos que separar o joio do trigo. Uma parte do agro e das empresas já compreendeu que não existirá um lugar para os seus negócios se não estiver dentro das regras que o mundo já estabeleceu no enfrentamento do problema das mudanças climáticas. Uma outra parte acha que pode voltar para o tempo do vale-tudo do início do século 20. Tem ainda quem já está fazendo o dever de casa e também os que são contraventores contumazes. Europa, Estados Unidos, Japão, Canadá e China estão fechando todo um regramento para taxar produtos de carbono intensivo, ou seja, produzidos à custa de destruição do meio ambiente, com combustível fóssil, violência contra comunidades e povos originários. Depois, eles serão vedados completamente. Investidores, como os de fundos de pensão, estão ficando cada vez mais exigentes. Estava agora na COP27 e tive reuniões com Reino Unido, Alemanha, Noruega, Espanha, vários países dispostos a mobilizar investimentos para o Brasil, a alocar mais recursos no Fundo Amazônia.
Querem a economia verde?
Eles dizem o seguinte: "o Brasil é a esperança de que a gente possa ter uma economia verde." E olha só, como nós podemos ter uma matriz energética 100% limpa, dois ministros da Alemanha me disseram: "Se vocês fizerem um investimento no hidrogênio verde, nós estamos interessados". Só que não pode fazer isso à base de combustível fóssil. O Brasil tem energia solar, energia eólica e energia de biomassa. É uma grande oportunidade de investimento. Tem também a agricultura sustentável. O mundo está cada vez mais exigente. As pessoas querem levar para as suas mesas algo que tenha muito mais do que a preservação estética, valor nutricional e sanitário. Elas querem também o valor ético, ambiental. O Brasil pode ser uma grande fonte de produção de alimentos de base sustentável, que é a agricultura de baixo carbono. Para isso, as pessoas têm que usar tecnologias, não é da noite para o dia, é uma transição. Mas, se cada um for seguindo um cronograma de se tornar sustentável, o Brasil pode dobrar a produção sem precisar derrubar mais uma árvore.
Colaborou Vitor Netto.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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