Em tempos de Sial Paris, maior feira de alimentos da Europa, o embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, provocou os empresários brasileiros a melhorarem os produtos que exportam para cá. Entende que a guerra abre oportunidades, mas não deixa de criticar restrições europeias a produtos brasileiros, o que vê como protecionismo. Abaixo, entrevista que concedeu em evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aqui em Paris:
O Brasil pode exportar mais para a França?
A França é um grande mercado, de referência. Precisamos dinamizar o intercâmbio comercial, diversificar produtos, agregar valor e essa é a oportunidade. A pauta é dominada por produtos sem valor agregado, commodities. Por exemplo, aumentar a exportação de café torrado em vez do verde. Talvez possamos agregar valor à soja, à castanha de caju, ao açaí que exportamos para cá. Somos o celeiro do mundo. A Europa hoje não é a do passado, o que abre oportunidades extraordinárias para nós. O Brasil está em uma posição privilegiada para atrair investimentos europeus, não só para o agronegócio, mas também para saneamento básico, energias renováveis e alta tecnologia.
Quais oportunidades a guerra acaba por gerar?
Primeiro, atrair investimentos que normalmente iriam para países do centro da Europa que estão muito próximos da zona de conflito. Depois, o fato de que a Ucrânia, sendo um dos celeiros deste mundo, está em conflito, com problemas de produção e escoamento. O forte dela é o trigo, mas que pode ser substituído por outros itens que nós produzimos.
Quem deve fazer e o que para o Brasil avançar no mercado europeu?
O setor privado que tem que ir ao encontro da demanda. Se é por produtos de mais qualidade e valor agregado, o empresário tem que se adaptar para atender. É o trabalho dele conhecer o mercado. O Brasil tem que mirar países com renda mais alta. Se é para fazer baratinho, a China faz mais do que nós.
O que a embaixada pode fazer?
Damos apoio ao exportador e repassamos para os potenciais investidores franceses as oportunidades no Brasil. Podemos fazer na embaixada degustação de produtos, mas de valor agregado. Em commotities, esquece. A embaixada não pode fazer absolutamente nada no mercado de petróleo, minério de ferro e soja. Agora, no de cafés torrados, cafés especiais, açaí, chocolates, sucos, cachaça, as coisas podem melhorar com nosso apoio.
O que fazer em relação às restrições europeias?
O melhor antídoto é ter uma rastreabilidade absoluta e segura para identificar produtos que vêm de regiões que não foram desmatadas. Também poderia se levar essa turma para ver nosso sistema de rastreabilidade. É claro que há protecionismo. Se você deixar, os europeus vão dizer que nós temos que plantar no mar porque na terra a gente sempre estará mexendo com o biosistema, com biomas, com não sei o que. Agora, evidentemente, a Europa vai ter que voltar ao carvão e ficar muito menos exigente em matéria de sustentabilidade e outras coisas. Eu digo: se a carne não é boa, não compra. Agora, proibir que ela venha é, ao meu ver, protecionismo puro. A Europa precisa entender que o acordo Mercosul-União Europeia é o melhor método para reduzir a dependência que os dois blocos têm da China. Se não entender isso, vai ficar difícil.
A Europa tem provocado o Brasil para produzir hidrogênio verde. Ela vai mesmo comprá-lo?
Acho que sim. Temos um grande futuro no hidrogênio verde. O nordeste do Brasil é o "Eldorado" dessas duas energias, porque tem ventos alísios constantes, intensos e unidirecionais. A produção de energia vai demandar, além da instalação de painéis solares e desses aerogeradores eólicos, uma rede de distribuição muito cara. Já o hidrogênio verde pode ser transportado em forma de amônia. Há um só navio no mundo inteiro pronto para transportar hidrogênio verde. E há 700 navios para amônia.
* A coluna viajou a Paris a convite da Fiergs. Leiam em Sial Paris tudo sobre a cobertura do evento.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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