O jornalista Daniel Giussani colabora com a colunista Giane Guerra, titular deste espaço
A situação dos aeroportos europeus tem chamado a atenção do mundo. Na última semana, um avião da Delta voou do aeroporto de Heathrow, em Londres, para os Estados Unidos, sem nenhum passageiro e com mil bagagens extraviadas de clientes. Os problemas são frutos de um aumento forte de demanda, com as férias escolares do verão europeu, que não foi acompanhado por um incremento de funcionários. E não basta só as empresas abrirem as vagas, está difícil preencher postos de trabalho.
Se você ou algum conhecido foi para a Europa nos últimos meses, já deve ter vivenciado ou ouvido relatos de problemas nos aeroportos. Filas extensas, bagagens perdidas, voos cancelados ou atrasados. Leia mais: Mar de malas e filas de horas apontam crise aérea na Europa e nos EUA
Durante entrevista ao programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha), a coluna aproveitou para perguntar à presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV-RS), como está o planejamento para as férias de verão aqui no Brasil — período que costuma ter a maior demanda do ano. De acordo com ela, a procura já existe, mas as coisas estarão mais controladas até lá.
— As coisas estão andando muito rápido. Em mais seis meses, o mercado já vai estar bem mais preparado e adequado, com um maior número de de aeronaves voando, as equipes hoteleiras e receptivos mais firmes, mais fortes, mais bem recolocados financeiramente e com conhecimento de tudo que tem que fazer para que realmente sejam momentos magníficos de férias — disse ela.
A opinião dela é parecida com a de outros especialistas, que acreditam que há menos chance de acontecer aqui o que acontece hoje na Europa. Um dos motivos é que ainda há capacidade para as companhias aéreas aumentarem a oferta. Em nota, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) informou que a malha aérea doméstica registra, em julho, 88,2% da média diária de voos em relação a como operavam antes da pandemia.
A coluna também conversou com o piloto gaúcho Henrique Hacklaender, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas. Ele também falou que as aéreas ainda tem capacidade de aumentar a oferta, mas, pontuou que é preciso olhar para capacidade de mão-de-obra e também para salários:
— Para a alta temporada, ainda tem margem para crescer, para abraçar demanda, mas não é uma garantia. Para os tripulantes, existe questão de salário. Tem tripulantes ainda para serem recontratados, mas outros países, como Estados Unidos, estão abrindo a porta para contratar gente de fora, e acaba chamando atenção, porque os salários são maiores, e tem o câmbio favorecendo.
Caso falte tripulantes, há mais chances de uma possível crise acontecer — visto que esse é um dos motivos pelos quais há problemas na Europa. Porém, o fato das companhias aéreas ainda não terem atingido a capacidade máxima de voos atenua a preocupação.
Confira a entrevista que o programa Acerto de Contas fez com Lúcia Bentz. Nela, também conversamos sobre o momento atual de férias de inverno e as principais procuras:
Como está esse momento atual de férias de inverno depois da pandemia? Como está a procura, principalmente pelo mercado doméstico?
A procura está grande. Houve algumas ressignificações em função de adaptações e descobertas, principalmente adaptações dos destinos para que recebam o turista. Tanto a demanda, quanto a parte de estrutura dentro do Rio Grande do Sul foi muito bem restabelecida e preparada para isso. No Brasil, as pessoas estão fazendo suas viagens "mais curtas", mas com investimento maior. Mas sim, houve uma ressignificação de vontades de descobertas, e principalmente olhando para dentro do Rio Grande do Sul e para dentro do Brasil.
Pelo que a ABAV observa, quais são os principais destinos dessas férias de inverno, tanto aqui no Rio Grande do Sul quanto para fora?
Dentro do Rio Grande do Sul está tendo uma demanda muito grande em relação a regiões da Serra, expandindo bem mais do que só Gramado e Canela. As opções de disponibilidade e de usufruir de todos os nossos produtos: a gastronomia, vinhos, azeites que vem sendo oferecidos. As pessoas estão fazendo mais essas viagens de degustações, vivências e experiências. Dentro do Brasil, os destinos de praias do Nordeste estão tendo uma demanda grande também. Argentina, Bariloche, são destinos que ainda ficaram um pouco em segundo plano, até pelas dificuldades de transporte e também as questões de crise dos países vizinhos.
A gente está com muita demanda. Alguns aeroportos enfrentam dificuldades, estão tumultuados. Principalmente fora do Brasil. O que se percebe dessas férias de inverno? As pessoas estão optando por que tipo de meio de transporte? A gente percebe também um aumento da procura pelos rodoviários?
Existe essa experiência das pessoas viajarem com seus próprios carros. O transporte terrestre também está sendo uma alternativa, porém houve também muita oscilação e aumento dos preços dos combustíveis, que também refletiu nos preços dos aéreos. Quem tem mais tempo para fazer essa viagem contemplativa, usufruindo do seu próprio transporte ou da parte rodoviária, está fazendo dessa forma. Mas, realmente, o aéreo ainda continua sendo uma das maiores procuras, principalmente por uma questão de tempo. As companhias aéreas estão se adaptando ao mercado conforme a demanda, tentando se adequar da melhor forma com a mão de obra, e recolocar toda essa mão de obra que foi dispensada. Isso está se refletindo em todas as questões, desde de pilotos, as tripulações e empresas que fazem as logísticas de bagagem, que é uma questão que está tendo bastante problema. Mas aí vem aquela questão de ter um agente de viagens. Tu ter alguém para resolver da forma mais rápida toda e qualquer intempérie que tenhas numa viagem, para que essa viagem realmente seja um sonho e não se transforme em um pesadelo.
Nós estamos falando do movimento aqui das férias de inverno, do impacto para o setor de viagens aqui no Rio Grande do Sul, mas ao mesmo tempo a gente já acompanha a movimentação das férias de verão na Europa e também uma crise aérea. Já há um planejamento para o verão daqui?
Sim, já existe um planejamento, várias viagens sendo arquitetadas. Com a pandemia, parece que aumentou essa vontade de viver experiências que realmente nos agreguem valores. As férias de verão na Europa já estão acontecendo, e sim, tem muitos brasileiros, muitos clientes nossos usufruindo deste momento, embora com bastante calor. Mas para as férias de verão do brasileiro, já existe essa procura e já estamos trabalhando com isso. As coisas estão andando muito rápido. Em mais seis meses, o mercado já vai estar bem mais preparado e adequado, com um maior número de de aeronaves voando, as equipes hoteleiras e receptivos mais firmes, mais fortes, mais bem recolocados financeiramente e com conhecimento de tudo que tem que fazer para que realmente sejam momentos magníficos de férias. Economicamente existe uma boa prospecção. Pelo menos somos bem otimistas, e trabalhamos incansavelmente pensando de que tudo vai melhorar e vai dar certo mesmo.
Como estão os números deste ano? Qual é o incremento que a gente tem de movimentação nas férias de inverno deste ano?
Estamos a 100% do que do que se trabalhou em 2019. Os aéreos estão lotados, as rede hoteleiras estão com uma demanda maravilhosa, as locadoras quase não tem carros, principalmente de entrada para locar. Mas vale lembrar que houve reduções. Então baseado no que o mercado hoje tem disponível para atender, essa demanda já está de utilização em 100%.
Agora, nas férias de inverno, têm muito mais gente viajando ou se mantém na média do pré-pandemia?
Se mantém na média, mas, com certeza, conforme as flexibilizações e disponibilidades, isso vai ter uma demanda maior de utilização, justamente porque os preços vão reduzir mais, as pessoas vão se acostumar mais também com essa oscilação de valores, ou acréscimo de valores.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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