Energia eólica e solar esteve entre os assuntos da última entrevista do programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha, com Marjorie Kauffmann, presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Ainda na pauta, um projeto curioso para o Rio Grande do Sul: o HyperloopTT — que já está recolhendo a documentação para licença ambiental. Confira:
A Fepam acelerou o licenciamento de projetos eólicos?
Sim. Temos cada vez mais vontade de implantar aerogeradores tanto em solo como nas lagoas e offshore. O Ibama tem licenciado. Acho que a energia eólica veio para ficar, e não só a eólica. Eu sempre digo: "que bom que moramos no Brasil, que tem sol, vento, água, carvão". Que bom é ter uma matriz tão diversificada como essa. Eu brinco que fui convidada para assumir a Fepam no mesmo momento que o governo fez a miscigenação da Secretaria de Meio Ambiente e de Minas e Energia. E um departamento que tinha muito problema aqui na Fepam era o de energia. Aí, foi uma tarefa dupla, porque eu tinha certeza que iriam querer bombar a energia no Estado. Então, a divisão de energia foi tratada com muito carinho e cuidado pela gestão. Eu, o diretor técnico, o diretor administrativo, redesenhamos o departamento de energia com foco nas energias renováveis, processos de licenciamento eficientes, que resguardem toda parte ambiental, mas que não podem demorar cinco, três, dois anos. Então, o departamento passou uma transformação gigantesca, desde chefia, revisão dos termos de referência, de licenças e de métodos de avaliação de processos de licenciamento. E os resultados começaram a partir do primeiro ano de redesenho dessa questão. Agora eu só recebo as notícias: está saindo a linha tal, está saindo 20 mil hectares de energia eólica, etc. Vemos que, de fato, está funcionando, e ainda tem muitos projetos de eólica que ainda tramitam aqui na casa, que vão sair. Antes não tinha como escoar energia. Então, as linhas — e a Cobra assumiu muitas delas — nos fazem diferentes no cenário energético brasileiro.
Foi uma dor quando tivemos projetos excluídos dos leilões de energia porque não tinha como exportar energia.
Agora, estamos com uma folga, não sei dizer exatamente o valor, mas o que tenho ouvido nos seminários de energia é que agora esse é o novo atrativo. Sobre energia eólica, brigamos muito com Rio Grande do Norte, que é um Estado com muito vento e, às vezes, os licenciamentos lá ocorrem de maneira mais célere. E no último congresso que eu fui de energia em São Paulo, falaram que não adianta parques se não tem como escoar. E o Rio Grande do Sul agora já tem.
A energia eólica offshore, em mar ou em lagoa, passa pela Fepam também?
Dentro do mar, não. É o Ibama. Mas as das lagoas, sim. Então, é o bônus e o ônus de trabalhar com um governador super jovem, com inteligência rara, que sempre nos puxa para ir adiante. A gente vai vencendo as barreiras, que nem a da transmissão, e aí vamos pensar na eólica, nas lagoas. Ainda temos bastante espaço em solo, mas precisamos ir além. Temos um processo administrativo instaurado no Estado para que possamos definir o uso da lagoa, da propriedade, porque a lagoa é um território estadual e que terá que ser concedido para o empreendedor que fará a exploração. Já estamos com as equipes da PGE bastante envolvidas para conseguir desenhar esse modelo. Eu tive uma reunião na última semana com um investidor de eólica e ele disse que a parte ambiental não o preocupava, porque irão executar o termo de referência que falarmos que tem que ser feito, mas ele precisa dessa questão da propriedade.
Agora, sobre energia solar. As grandes usinas desta energia passaram o carvão na matriz energética do país. O Rio Grande do Sul até está bem em microgeração, mas em grandes usinas, não.
É. Esses dias eu mencionava que parece que não temos geração de energia solar aqui no Estado, porque não licenciamos microgeração. A gente não licencia nada que seja menor do que cinco hectares ou a geração de cinco megawatts. Então, parece que não tem. Mas muitas residências e empresas têm essa geração. E nós licenciamos uma primeira planta este ano. Quando a gente assumiu a Fepam e a divisão de energia, já fez uma de energia solar. Então, estamos prontos para receber de solar. As energias renováveis — e a solar e eólica ainda mais que a hídrica — são uma tendência. Então, estamos prontos para isso. Não vejo grandes problemas ambientais. Até porque as áreas ocupadas por esses empreendimentos são antropizadas, sem grandes problemas. Só ainda não temos a demanda. Se hoje você me perguntar quantos projetos de energia solar estão aguardando análise, a resposta é: nenhum.
Acho que, às vezes, tem preferência para Estados que têm incidência solar aparente o ano todo. Mas já vi empresas de energia solar falarem outras características que são positivas para instalação, por exemplo, na serra gaúcha. Não sei exatamente o motivo por não ter interesse privado aqui...
Eu acho que o grande segredo é ter a matriz diversificada. É ter todas as possibilidades, porque nem sempre temos vento, nem sempre temos sol. Às vezesm temos secas que comprometem muito a geração de energia, e temos que ter, também, a geração contínua e firme da energia do carvão. Hoje, na nossa matriz, ele é pouco. Mas se formos olhar para nosso parque industrial, o que é gerado a partir da energia do carvão... Eu sempre menciono que o problema não é extrair o carvão, mas sim achar outra maneira de poder gerar a mesma energia contínua. Não tem que conversar com pessoal que faz mineração, e sim conversar com quem usa, e ver se é possível fazer a transição. Aí, trabalhar como e substituir gradualmente, a cada ano. Mas estamos aguardando todas as energias.
Como a senhora vê o projeto da Hyperloop? Costumo comentar que ele é tão complexo como inovador.
Exato. Qual é a complexidade? É uma coisa que não existe no Brasil, existe em poucos países, e é ainda mais desafiador porque vamos ter que propor um licenciamento para esse empreendimento completamente diferente. Nós já tivemos duas reuniões de alinhamento para ver como podemos encaixar isso. Com certeza, não existe um código de ramo de licenciamento de Hyperloop, mas a gente tem a questão dos trilhos ferroviários, que também passar por longas distâncias e tem as questões ambientais, as próprias estradas também, porque o que vamos avaliar é o impacto ambiental deste empreendimento, deste corpo estranho, que vai se deslocar ali. Com relação às questões econômicas, operacionais. Como vão fazer para passar isso no meio da Serra? Como vai fazer para passar esse vale todo? Não sabemos. Mas o que mencionamos é que poderíamos tratar em uma mescla de sistema de transporte tanto rodoviário como ferroviário, mas também misturando isso com gasoduto, porque é um tubo. Então, a gente começou a delinear tudo isso, mas o caminho proposto pelo Hyperloop aqui no Estado já usou a sensibilidade ambiental e deu o melhor trajeto. Isso já é uma coisa que não acontece normalmente nos empreendimentos. A minha percepção é que estamos trabalhando com muito profissionalismo nisso. Desde o pessoal que pensou na gênese desse projeto, e aqui vamos reunir o melhor time possível para as questões de execução desse projeto. Não é impossível ambientalmente de se licenciar, até porque a gente fala, como eu mencionei anteriormente, as próprias estradas têm detonação. São impactos que já são conhecidos para um empreendimento que é novo. O que a gente precisa é entender como vai se materializar tudo isso, porque para mim ainda é uma coisa bem futurista.
Toda vez que eu converso com diretor do Hyperloop, falamos de três pilares, que é a questão ambiental, dos investidores e quando eles vão testar com passageiros.
Eu acho fantástico a gente entrar em uma cápsula e em 15 minutos estar em Caxias do Sul.
Ouça também no programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha):
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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