Em 15 anos fazendo - e aprendendo - jornalismo econômico, já passei por outros momentos em que a alta de preços exige mudanças no consumo. De início, começamos a fazer reportagens sugerindo a substituição dos alimentos. Depois, os substitutos também começam a ficar caros demais. Daqui a pouco, as reportagens começam a ser mais pesadas, pois sabemos que estamos falando para muitas pessoas que já estão com um orçamento muito enxuto.
Quando o Francisco Brust, da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), comentou que waflle estava entre os substitutos, achei que era para um lanche eventual do consumidor. Mas, na entrevista com o presidente Antônio Cesa Longo, eu engoli seco quando ele contou:
- Tive um caso de oferta de biscoito waffle a R$ 0,99. Entrou um cidadão, tinha R$ 10, levou 10 pacotes e disse que garantiu a refeição das crianças por uma semana. Quanto menor a renda, mais preocupação em garantir comida. Qualquer aumento de imposto ou dissídio menor do que inflação, é menos consumo. A realidade é essa.
Este relato do presidente da Agas está repercutindo entre os leitores e na minha cabeça. Mal podemos chamar estes waffles baratos de alimento considerando o valor nutricional baixíssimo. Gorduras ruins e corantes substituem farinhas e outros bons ingredientes, mas matam a fome. E não consigo nem imaginar o que é ver o filho passar fome.
E hoje saiu a divulgação do Indicador de Inflação por Faixa de Renda, calculado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A inflação foi mais acentuada para as famílias de renda muito baixa há sete meses consecutivos. O grupo habitação foi o que mais pressionou, com reajustes das tarifas de energia elétrica, gás de botijão e aluguel. Sobra menos dinheiro para comer. Além disso, o segundo segmento que mais influenciou a inflação das famílias de menor renda foi o de alimentos e bebidas, especialmente batata, açúcar, café, aves e ovos, mesmo com quedas de preços em arroz e feijão.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo de GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.