A conta de luz já subiu bastante e vai aumentar mais. Sim, os impactos na energia elétrica são bastante previsíveis. Tanto que o que está ocorrendo já foi alertado há bastante tempo. A coluna mesmo já avisava desde o final do ano passado, mas os modelos feitos pelos especialistas já apontavam há alguns anos para uma crise hídrica, provocada pelo pior regime de chuvas em 91 anos. Mas o que vem por aí?
Outubro e novembro devem ter um volume ainda menor de chuva. Além disso, ocorrendo o La Niña, isso deve continuar nos meses seguintes. Nesta sexta-feira (27), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definirá qual bandeira tarifária vai vigorar nas contas do mês de setembro. Estamos com a vermelha patamar 2, que é a mais alta e teve o valor reajustado em 52% em julho, o que aparece agora na inflação.
A tendência, claro, é que continue e até que aumente o valor dessa cobrança extra mensal. Novos cálculos internos do governo apontam para a necessidade de um novo reajuste da bandeira vermelha nível 2 dos atuais R$ 9,49 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos para algo entre R$ 15 e R$ 20. Mesmo que improvável, existe um cenário de R$ 25. Vocês imaginam o susto se ela dobrar? Quando ela foi reajustada em 52%, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) calculou para a coluna um aumento de 11,55% nas contas de luz dos moradores de Porto Alegre.
Tem mais, pessoal. Em novembro, tem o reajuste anual da tarifa de energia elétrica da CEEE Equatorial. Deve ficar em torno de 10%. A Aneel tem feito um esforço para não aplicar aumentos de dois dígitos. No caso da RGE, em junho, foi de pouco mais de 9%. Esses percentuais todos que a coluna lista ainda são aplicados uns em cima dos outros, potencializando o impacto final no que o consumidor precisa pagar. E, sobre os valores, ainda tem a aplicação dos tributos, que sobem automaticamente.
Teremos racionamento? O governo federal evita falar disso e mais ainda em apagão. Mas tem anunciado medidas nesta linha, como a redução de consumo em prédios públicos. Além disso, criou um programa de compensação financeira para grandes indústrias que deslocarem consumo para horários fora do pico, quando há mais risco de blecautes. O Ministério de Minas e Energia prometeu também para setembro já premiar consumidores menores que reduzirem o uso de energia, mas ainda não deu detalhes de como isso irá funcionar para que se possa projetar um impacto na conta de luz.
Como está o debate sobre o retorno do horário de verão? Antes resistente, o governo federal resolveu voltar a analisar a possibilidade. Pediu um estudo ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), mas que apontou que a economia de luz seria pequena, quase nula. O fim do horário de verão foi a primeira medida do governo Jair Bolsonaro quando assumiu. O entendimento é de que o perfil do brasileiro mudou e anoitecer mais tarde poderia até aumentar o consumo de energia, com, por exemplo, o uso de ar condicionado. Mas entidades de comércio e turismo pediram ao governo que reavaliasse porque poderia movimentaria mais o setor, que costuma ser beneficiado pelas pessoas que ficam até mais tarde na rua. Esse argumento balançou o presidente Jair Bolsonaro, que chegou a dizer que mudaria de ideia e retomaria o horário de verão caso a maioria quisesse. É possível, portanto, que tenhamos novidades.
E a conta de luz em 2022? Não teremos trégua, não. Recentemente, um representante da Aneel projetou no Congresso uma alta superior a 16% nas contas de luz no ano que vem. Isso porque a crise hídrica vai continuar e, ao que tudo indica, o país não tem capacidade de melhorar sua matriz energética até lá. Será necessário continuar gerando energia mais cara. As tarifas ainda sofrem impacto do câmbio e de indicadores de inflação que estão altos.
Enquanto isso, tramita no Congresso o marco legal da geração distribuída, quando o consumidor mesmo gera sua energia. Já foi aprovado na Câmara dos Deputados e precisa passar pelo Senado. A proposta mantém a isenção de tarifa para uso da rede elétrica até 2045 para quem já tem o sistema ou quem instalar em até um ano após a publicação da lei. Isso vai gerar um boom de demanda, que exigirá preparação grande das empresas que vendem os equipamentos e também sentem alta nos preços dos insumos.
Ufa, acho que resumi os principais pontos. E aqui, vejam as observações e dicas dos leitores da coluna para lidar com o aumento. Elas sinalizam que, sim, tem muito problema em aumentar a conta de luz, apesar de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter dito: "Qual o problema de a energia ficar um pouco mais cara?"
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Francine Silva (francine.silva@rdgaucha.com.br)
Leia aqui outras notícias da coluna
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo de GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.