Novamente, a coluna avisa para que o leitor possa se planejar: fique atento aos preços dos combustíveis. Se os alimentos tendem a dar uma trégua agora e bandeira tarifária na conta de luz será menos pesada em janeiro, o orçamento das empresas e das famílias deve ser impactado por elevações do diesel e da gasolina. A coluna já havia feito o alerta para o reflexo da vacinação na demanda por combustíveis e, agora, recebeu avisos de dois especialistas no assunto entre ontem e hoje.
Um deles é o químico industrial Marcelo Gauto, que avisou que o câmbio de agora, girando em torno de R$ 5, e o barril de petróleo a US$ 60 trará uma situação semelhante à greve dos caminhoneiros.
- Na época, o petróleo beirava US$ 80 e o câmbio era de R$ 3,70. A ressalva é que a cotação do petróleo está agora nos US$ 50 por conta dos cortes de produção da Opep+ em especial - pondera Gauto sobre a entidade dos países produtores de petróleo.
Só que, se a demanda se recuperar mais rápido do que o esperado, o barril pode encostar nos US$ 60 e pressionar mais os preços no Brasil:
- A luz amarela para o governo federal está acesa - diz Gauto.
O diesel é o combustível do transporte rodoviário, principal modal para cargas no Brasil. Por isso, tem um forte aumento em cascata na economia.
Mas não é só para o impacto indireto que o consumidor deve atentar-se. A gasolina já teve alta nas refinarias e deve subir mais. Neste caso, o aviso é do economista da Quantitas Asset João Fernandes. No início da manhã nesta terça-feira (5), a gasolina internacional estava 5,5% acima da cobrada pela Petrobras nas refinarias brasileiras, abrindo espaço para novo reajuste pela estatal.
- Tendência é que, com o mundo vacinando e se recuperando, o petróleo vá voltando aos poucos para US$ 60, o que já geraria alta de 20% na gasolina na refinaria. Isso se o dólar ficar "parado" - diz Fernandes.
O dólar tende a enfraquecer caso a situação econômica mundial melhor. No entanto, o câmbio ainda está resistente e, no Brasil, há a preocupação fiscal como "tempero".
- Acho que, nesse cenário, o dólar volta pra R$ 4,80 ou 4,90. Talvez um pouco menos. Isso compensaria em parte a alta do petróleo, mas não evita aumentos de gasolina e diesel - projeta o economista, considerando que a moeda gira em R$ 5,25 hoje.
Só que, se o dólar resistir no nível atual, o combustível no Brasil vai a níveis recordes. Para o governo federal, haveria um sério problema a se revolver, da relação com os caminhoneiros até o impacto na inflação, que já está sob os olhares atentos desde o segundo semestre de 2020.
As vacinas e os combustíveis
A Petrobras considera tanto o dólar quanto o preço do petróleo no mercado internacional. A moeda norte-americana tem caído em relação ao real, mas o ouro negro está ficando mais caro. Mas o que esse otimismo todo tem a ver com o preço da gasolina? Quando a economia melhora, automaticamente aumenta o consumo de combustíveis. Com vacina, a circulação das pessoas crescerá, fazendo com que abasteçam seus carros também. Se o mercado projeta esse cenário, a cotação do petróleo e, diretamente, da gasolina também sobe.
A Petrobras define o preço na refinaria para venda à distribuidora. Depois, a negociação é livre com os postos de combustível, que também decidem o preço ao consumidor. Há que se observar o espaço no orçamento dos clientes para repassar reajustes. E essa margem vai depender de como será a retomada da economia em 2021.
O preço mais alto da gasolina já cobrada do consumidor gaúcho foi em outubro de 2018. Na época houve uma disparada no consumo mundial do combustível, puxada pelos Estados Unidos. O litro chegou a custar, em média, R$ 4,95 no Estado.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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