Indústria de borracha de Santa Cruz do Sul que direcionou sua atuação para as áreas de saúde e educação, a Mercur lançou agora um guia de relacionamento com o público infantil. Entre as medidas tomadas, estão não fazer publicidade direcionada a crianças e deixar de usar imagens de pessoas com menos de 16 anos em suas campanhas publicitárias.
- Já tínhamos o cuidado para não criar um tipo de consumismo em um ser que não tem condição cognitiva para escolha. [O guia] mapeia e indica o comportamento nos mercados onde atuamos, além das práticas em relação ao trabalho infantil. Não nos comunicamos com a criança, mas, sim, com o adulto, que tem condição de discernimento e escolha - comenta Fabiane Lamaison, facilitadora de coordenação da Mercur, em entrevista ao programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha). Assista a entrevista aqui:
A elaboração desse documento é resultado de um processo de reflexões que começou após a primeira virada de chave da empresa em 2008. Na ocasião, a Mercur questionou seu papel no mundo e tomou a decisão de evitar o relacionamento e a aquisição de qualquer insumo com empresas que tenham em sua cadeia produtiva vínculos com o trabalho infantil. Dois anos depois, decidiu parar de produzir produtos licenciados. Na prática, a empresa parou de usar personagens infantis.
- Esse movimento de sair dos licenciados foi construído por uma identificação de que causávamos um desconforto na sala de aula, trazendo o consumismo a bordo das crianças, incentivando a relação dos consumos - conta Fabiane.
Para desenvolver o guia, a empresa teve apoio do Instituto Alana, uma organização que trabalha sobre impactos da publicidade da criança. Segundo Fabiane, com a instituição, a Mercur percebeu que, na base, ainda estava construindo relação com o público infantil de maneira equivocada.
- Por exemplo, realizávamos oficinas com crianças que no fundo tinham o objetivo de fomentar o consumo de nossos produtos - explica.
O guia
De modo geral, o guia prevê a preservação do público infantil da relação com a marca até os 12 anos. Decisão que tem uma série de desdobramentos em diversas áreas da empresa, que terão um prazo de dois anos, partindo de julho de 2020, para se adaptar às novas definições. Entre pontos específicos, a Mercur deixa de contar com a participação de pessoas menores de 12 anos para desenvolvimento de produtos, incluindo testes. A empresa também deixa de usar imagens de menores de 16 anos em seus materiais de comunicação e embalagens e receberá visitas somente de pessoas maiores de 12 anos. Caso haja uma situação específica, deverá ser analisada e autorizada por um responsável legal.
A virada de chave
Os leitores da coluna já conhecem a mudança profunda feita na Mercur, uma virada de chave que teve início em 2008. Com sede em Santa Cruz do Sul, a empresa foi criada em 1924 para buscar na borracha as soluções para problemas enfrentados na economia local, já que os fundadores não precisavam da renda. Jorge Hoelzel é da terceira geração da família, conduz o negócio hoje e disse que esta origem foi um dos motivos para a guinada. Tudo começou quando se questionou o que aconteceria com o mundo se a Mercur acabasse. A resposta, até então, era: nada.
— Éramos muito bons no econômico-financeiro, mas precisávamos olhar para os pilares social e ambiental. Os três formam a sustentabilidade, conceito que tem ficado superficial. Há empresas que pintam parte do produto de verde para cobrar mais lá no final — explica o empresário, que trouxe para a empresa valores que segue na vida pessoal.
Uma das ações mais delicadas foi suspender a venda para a indústria do fumo, considerando que a Mercur tem fábrica em Santa Cruz do Sul. Depois, interrompeu a produção de itens como peças técnicas industriais, lençóis de borracha, pisos e isolante elétrico. Os produtos destoavam no novo propósito da empresa. O foco ficou nas áreas de educação e saúde, com destaque para produção de itens para o uso no dia a dia por pessoas com deficiência e materiais escolares sem personagens infantis.
A coluna foi recebida na fábrica em Santa Cruz do Sul, que tem cheiro de borracha e traz a memória do material escolar recém comprado. Relembre: Virada na Mercur teve fim dos cargos de chefia e dos personagens infantis
Também ouça aqui a entrevista:
Ouça entrevista feita em 2018 com Jorge Hoelzel para o programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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