O programa Acerto de Contas (domingo, às 6h, na Rádio Gaúcha) apresentou uma edição especial sobre Indústria 4.0, entrevistando empresários sobre desafios e oportunidades que a automação e a inovação dão às empresas. Um dos convidados foi Valter Sonda, diretor de operações da Soprano, empresa da serra gaúcha com 66 anos de atuação. Confira:
Qual a estrutura e a área de atuação da empresa?
A principal área de atuação da Soprano é dentro da construção civil. Nós temos hoje duas unidades direcionadas a produtos para construção civil, como fechaduras e ferragens. Mais recentemente, adquirimos os ativos da empresa Iriel, de Canoas, que fabrica interruptores e tomadas. Esse era um segmento onde queríamos entrar. Temos ainda uma unidade que atua com componentes para a indústria moveleira e outra para utilidades térmicas. Há também uma operação de sistemas fotovoltaicos, que é nossa mais recente para venda ao mercado e distribuição de produtos importados para uso em energia solar. A Soprano tem hoje 66 anos, temos unidades em Caxias do Sul (RS), Farroupilha (RS) e Campo Grande (MS). Possuímos ainda um escritório de compras em Xangai, na China, e uma filial na Cidade do México. São em torno de 900 funcionários e integraremos (contratarão novos funcionários), a partir de dezembro, entre 100 e 150 trabalhadores na unidade comprada da Iriel. Compramos todos os ativos, produtos e marcas.
Com frequência, recebemos materiais da Soprano sobre novidades, novos produtos. Como essa cultura de inovação é colocada dentro da Soprano?
A inovação é um processo que não tem fim. Na Soprano, começou mais fortemente nos últimos 10 anos. Começamos contratando uma empresa especializada e fizemos um diagnóstico de qual o nível de inovação da Soprano. A partir disso, comprovamos que a empresa tinha que começar esse processo. E a inovação não nasce só na empresa. Ela tem que acontecer nas pessoas, nas empresas, na comunidade, nas instituições de ensino, na comunidade como um todo, até que se crie um "hub" de inovação. Nós sentimos essa necessidade e começamos com treinamento para a direção através de universidades. Começamos a participar e fazer visitas a centros e empresas que são referências em inovação, como a Embraer. A partir disso, avançamos com empresas e entidades. Nós somos hoje mantenedores do Centro de Excelência Empresarial, que dá treinamento focado em cima do comportamental. Entramos associados à Amcham, que tem bastante evento. Também somos mantenedores do Instituto Hélice, criado aqui na Serra para promover um hub de inovação na região, junto de empresas como Marcopolo, Randon, Metadados e Florence. A cada mês, temos novos associados, sempre com intuito de manter a inovação. Além disso, entendemos que deveríamos estar alocados dentro de um núcleo de inovação. Buscamos, então, abrir nosso núcleo dentro de um "hub" de Santa Catarina e contratamos pessoas especializadas nisso para promover a cultura. Isso foi um começo da empresa dentro desse desafio de que tudo o que fazemos, fazemos com inovação.
Estar presente em todas essas frentes faz com que a inovação esteja no dia-a-dia da empresa. Até para identificar oportunidades, ver como melhorar. Certo?
Posso te garantir que não é uma tarefa simples. A criação de cultura leva tempo, tem que ter persistência e resiliência e, muitas vezes, começa de cima para baixo. A alta direção tem que dar o exemplo que se precisa buscar isso. E uma empresa não é inovadora sozinha, ela precisa da comunidade, das instituições de ensino, para que o ambiente todo se torne inovador. É muito difícil uma pessoa inovadora permanecer dentro de uma empresa que não é inovadora. Isso precisa ser construído junto. Porque a inovação é um processo, ela tem de ser criada e com um grande grupo. O grande desafio do Hélice é fazer com que tenhamos um "hub" de inovação na Serra, junto com a TecnoUCS, para que ela chegue nos níveis de inovação de outros locais, como Santa Catarina e São Paulo. Esse é um trabalho que só é possível de ser feito junto da sociedade, com união de empresas, setor público, privado e instituições de ensino. Começamos esse trabalho, somos muito felizes em sermos fundadores e mantenedores do Instituto Hélice, que tá crescendo muito. Com essa união toda, é possível se criar uma cultura perene e persistente.
A inovação, a Indústria 4.0, vai substituir processos repetitivos, que, teoricamente, as pessoas não gostam de fazer, por uma função muito mais instigante e motivadora.
VALTER SONDA
Diretor de operações da Soprano
Muitas vezes, as pessoas mostram receio de que a Indústria 4.0, a automação, a tecnologia, reduzam o número de empregos. A indústria pode se modernizar e, ainda assim, aumentar o número de funcionários?
Sem dúvida. Evidentemente, as funções vão mudar, mas para melhor. A inovação, a Indústria 4.0, vai substituir processos repetitivos, que, teoricamente, as pessoas não gostam de fazer, por uma função muito mais instigante e motivadora. Sobre esse dilema de fechamento de empregos, eu vejo o contrário. Quanto mais se evolui, mais necessidade se tem, mas são necessidades diferentes. Não é porque temos uma fábrica robotizada, que vamos precisar de menos pessoas. Sim, vamos precisar menos pessoas naquele processo específico, mas vamos precisar de muito mais cabeças pensantes para programar esses robôs. Quando se parte para um processo de automação, é difícil e demorado. Porque, normalmente, não se tem mão de obra especializada para isso. Então, é preciso mais escolas, mais ensino, e gera emprego em toda uma outra cadeia. Se a robotização e a Indústria 4.0 fechassem empresas, elas não estariam crescendo, contratando e sendo mais competitivas.
E qual seu recado para a pequena empresa que quer inovar, que quer buscar o seu "4.0"?
Hoje, a Soprano está entre as 50 empresas mais inovadoras e entre as 30 melhores para se trabalhar no Rio Grande do Sul. A Indústria 4.0 não é uma escolha nossa, é do mercado. Eu vejo que não tem como decidir o contrário. Ou você acredita e avança nisso, ou está fadado a parar no tempo, a ter problemas sérios de competitividade. Então, se não há escolha, comece logo. Eu não consigo ver outro caminho. A pequena empresa tem que começar a pensar na região dela, no Estado, no país, e pensar em ser fornecedora lá fora também.
Indústria 4.0
Ter mais produtividade e variedade de produtos, com custos menores e preços melhores para os clientes. Qual empresa não quer isso? As indústrias querem e buscam com investimento em tecnologia, aperfeiçoamento de processos e transformação na equipe. São pontos que fazem parte da chamada Indústria 4.0. Assim como para outros setores, a pandemia trouxe mais desafios e oportunidades. Sobre o assunto, a coluna conversou com o diretor de operações da Soprano, Valter Sonda; o diretor do Senai RS, Carlos Trein e o fundador da Spheric e Floki, Giuliano Hoffmann. Confira no vídeo:
Ouça o programa completo sobre o assunto:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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