Quando a escola pede para meus filhos, Atena e Gael, desenharem a família, meus pais eventualmente também aparecem na folha de papel. Às vezes, somos palitinhos coloridos e, outras vezes, super-heróis. O caçula, do alto dos seus cinco anos, me chamou a atenção esses dias para tirar a mão da boca porque a vovó Guiomar disse que não é higiênico. A mais velha, de sete, pede para perguntar para o vovô Heron se aquela aranha é a que come mosquito, já que ele morou na “floresta” e sabe tudo de bichos. Na verdade, meu pai foi criado na roça mesmo.
Essa presença constante foi construída por um vínculo que não se compra na prateleira da loja. Meus pais criaram os pequenos comigo. A mãe vinha aqui em casa praticamente todos os dias da licença maternidade. Quando eu voltava a trabalhar, ela chegava às 6h30min da manhã, ainda escuro. Esperava que acordassem no tempo deles, levava para a casa dela e então curtia os netos durante o dia com meu pai.
Antes da pandemia, continuava vindo para levá-los ao colégio. E são escolas diferentes.
“É bom para mim também, aproveito melhor o dia porque acordo cedo. E aproveito para apertar e dar uns beijinhos”, dizia ela.
E eu respondia: “Está bem, mãe. Só não queria te colocar esse compromisso.”
Só que sempre que uso a palavra compromisso para me referir aos netos, olhos se reviram e escuto contestações. Pensamos igual em tudo? Não mesmo. Eu discordo deles e eles de mim em várias coisas relacionadas às crianças. Às vezes, até discutimos. Mas jamais deixarei divergência alguma afetar esse vínculo tão lindo, construído no detalhe da escolha do melhor morango da embalagem até a viagem que só sai se as crianças forem também.
Abençoada essa etapa da vida que tenho meus filhos e meus pais comigo. O coronavírus deixou a presença física em suspenso por alguns longos meses. De tão difícil que foi, tomamos a decisão de fazermos o isolamento juntos. E as crianças compreendem que não podem descer do carro nem para ir à padaria para proteger, principalmente, o vovô e a vovó.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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