Não amaldiçoe o home office ainda. O que estamos vivendo não é um teletrabalho em condições normais de temperatura e pressão. Faz parte de um contexto de pandemia. Sei que é segunda-feira e muitos, como eu, acordaram angustiados pensando se darão conta da semana. Na agenda aqui, tem uma lista com pautas ainda de antes das férias, algumas burocracias da vida, homescholling pela manhã e à tarde - com um dos filhos sendo alfabetizado em casa, a crepioca da janta, fazer pão e preparar ainda o almoço de amanhã. E olha que hoje nem tem reunião de pais das escolas, mas amanhã e quarta, sim.
As crianças ainda estão dormindo, mas precisamos acordá-las cedo para prepararem-se para as aulas e, claro, para terem sono e dormirem no mesmo horário que os pais madrugadores. Sendo que ficam trancadas em um apartamento, gastando a energia pulando no sofá (que talvez tenhamos que trocar no pós-pandemia) e na cama (que molas ótimas ela tem, impressionante). Obrigada também aos vizinhos Renato e Bia, por aguentarem o patinete que começa a deslizar pelo corredor às 8h. É difícil pedir silêncio para elas, enquanto estão brincando na sala da própria casa. Em vários horários, é preciso escolher essa culpa ou a do uso exagerado das telas pelos pequenos.
Começamos o home office ainda na metade de março e, admito, com a ideia de que seriam algumas semanas apenas. Várias fotos, brincadeiras e leveza ao falar da nova realidade. Mas a pandemia começou a se alongar e ficar cada vez mais pesada. O lado romântico da coisa começou a se perder, conforme cresciam as notícias de mortes, de demissões, a imprevisibilidade, a saudade e todo o peso que isso traz também para a vida pessoal. Fora que, sendo algo temporário - por mais longo que seja, não jantamos na mesa há quatro meses, pois montamos nossos equipamentos todos em cima dela. Não há espaço para um prato de sobremesa, imagina quatro pratos.
Então, não se preocupe se você está já amaldiçoando o home office e querendo voltar ao escritório. Também sinto saudade da redação. Provavelmente, é o desejo também de voltar à sua vida antes do coronavírus. As crianças indo à escola, você podendo ver sua família e amigos aos finais de semana, fechar o computador e ir até a academia ou correr no parque, terminar o expediente de sexta-feira e encontrar o namorado na pizzaria.
Quando leio as notícias de empresas que adotarão o home office em definitivo e de que o teletrabalho será tendência, penso nisso e sugiro que lembrem também: ele será diferente. Não será o home office de hoje. Poderá ser lindo, inclusive. Mais pessoas morando fora das capitais, deixando a cidade menos densa e valorizando o interior. Com mais qualidade de vida para quem se muda e para quem fica.
O difícil é saber quando. Mesmo sabendo que previsões são feitas para serem revistas, aí vai uma projeção. Presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e integrante do comitê que estuda o vírus no Ministério da Ciência, Fernando Spilki acha que a vacina contra a covid-19 possa chegar no final de 2020 em um cenário otimista. Sendo mais realista, início de 2021. A torcida, lembrando, é que várias das que estejam sendo testadas sejam eficientes, ampliando a capacidade de produção e de imunização ágil da população.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da colunista