Empresa da serra gaúcha, a Irwin Ferramentas foi destaque aqui na coluna há poucos dias ao adotar diversas medidas para retomar a produção e manter seus 400 postos de trabalho. Elas vão de uma área para desinfetar calçados na porta da fábrica até biombos para separar os funcionários no refeitório. Sem contar a dificuldade de todas as empresas - sem falar nos hospitais - para encontrar e pagar caro pelos chamados EPIs, que são os equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas.
De um lado, todo esse esforço e ainda os pedidos desesperados dos varejistas para conseguirem abrir, mesmo que adotem cuidados que deixem a loja parecida com uma sala cirúrgica. E, de outro, há as fotos que nossos colegas de GaúchaZH trazem dos parques de Porto Alegre aos finais de semana. Nesse feriado de terça-feira, em especial, gaúchos compartilhavam chimarrão e se abraçavam. Não, não eram pessoas correndo para espairecer e manter a saúde física com alguns metros de distância. Nem eram pequenos núcleos familiares olhando o sol distantes uns dos outros. Era aglomeração mesmo e compartilhamento de mate, com saliva, o canal de transmissão da covid-19.
Esse comportamento da sociedade é um dos motivos que fazem a economia sangrar de forma mais intensa e por mais tempo. Quando se fechou bares, pessoas foram beber em lojas de conveniência. Parecem adolescentes driblando as determinações dos pais, sem olhar o motivo dessas restrições. E, no caso de uma pandemia, sem a menor preocupação coletiva. Se houvesse conscientização e o problema fosse tratado com seriedade, a gestão da crise da saúde e econômica poderia ser feita de uma forma mais sofisticada desde o início.
Em tempo, o colunista Paulo Germano já questionou a prefeitura de Porto Alegre sobre o fechamento do espaço para o pessoal ficar. A explicação oficial é que, se liberassem os carros em toda a Beira-Rio, os pedestres passariam a ter menos espaço para circular, ficando espremidos nas calçadas.
Ainda não temos uma tragédia no Rio Grande do Sul. Que bom, o distanciamento feito por parte da população ajuda nisso. Torço que não cheguemos perto do que se vive em Manaus (AM). Lembrando que sou da linha de que qualquer vida vale o esforço, porque ela é uma vida na vida de alguém. E podia ser também uma vida na minha vida.
Mas, para quem gosta do argumento econômico, lembre-se que esse comportamento inconsequente passa confiança zero para os governantes e autoridades de saúde. Quem decide os decretos de suspensão das atividades econômicas olha para essas cenas e pensa algo como "o cidadão não tem noção do que pode acontecer, não vai respeitar por simples consciência". E então, fecha-se tudo. Ou quase tudo, mas o suficiente para os milhares de desempregados que já estamos vendo.
Além disso tudo, tenho a dor pessoal. Olho esse mate compartilhado e penso que ficarei ainda mais tempo sem que meus filhos convivam com meus pais, que estão isolados e com bastante medo.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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