Qual é a alternativa melhor? 1) Reconhecer o porto-alegrense como alguém incapaz de cumprir regras, um infrator em potencial, um alienado sem qualquer preocupação social e, assim, ciente dessas falhas, tentar reduzir o impacto negativo que tamanha infâmia pode causar?
Ou: 2) Tratar o porto-alegrense como alguém que, se ainda não tem, deveria ter consciência de eventuais atos irresponsáveis e, justamente por isso, tentar educá-lo e orientá-lo a fazer o que é certo?
É um debate importante. Por enquanto, a prefeitura – que vem fazendo um bom trabalho no combate ao coronavírus – tem seguido a primeira alternativa nos finais de semana. É quando a Avenida-Beira Rio, como sabemos, continua bloqueada para carros no sentido Centro-bairro. Continua, portanto, como área de lazer.
Parece um paradoxo, não? Se a própria prefeitura implora para todos ficarem em casa, então por que mantém aberta, mesmo com a opção de fechar, um espaço que convida as pessoas a passearem a pé? E, de fato, nos últimos dois finais de semana, centenas de pessoas foram à Orla passear a pé – e descumpriram o que as autoridades vêm pedindo.
A explicação oficial é que, se liberassem os carros em toda a Beira-Rio, os pedestres passariam a ter menos espaço para circular. E, com menos espaço para circular, eles poderiam ficar espremidos nas calçadas, caminhando mais próximos uns dos outros, o que seria ainda pior para a disseminação do vírus.
Faz sentido, claro, mas o vice-prefeito Gustavo Paim – que está rompido com Marchezan – pensa diferente: se as pessoas souberem que ficarão muito próximas umas das outras, elas deixarão de ir ao local. Porque ir será perigoso.
Mas, do jeito que está, o porto-alegrense que se sacrifica, que aceita ficar em casa, que abdica do sol e da brisa do Guaíba aos domingos, esse porto-alegrense vê na TV aquela multidão se esbaldando em negligência e pensa:
– Por que eles podem e eu não?
Talvez, no próximo fim de semana, esse porto-alegrense não queira mais ser feito de bobo – embora, claro, ele não seja bobo, pelo contrário, seja uma pessoa correta. Mas, às vezes, é bom valer a pena ser correto. Se me tratam como um infrator em potencial, um dia eu me rebelo.