A fuga de dinheiro dos fundos de previdência privada na pandemia já é bilionária. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que as pessoas sacaram mais de R$ 2 bilhões só na primeira quinzena de maio, deixando o saldo entre depósitos e retiradas de 2020 negativo em R$ 1,4 bilhão. É o pior resultado entre todos os tipos de fundos monitorados.
Realmente, houve uma forte queda na rentabilidade - até com retorno negativo, como se diz quando há prejuízo - e assusta quem monitora com frequência o saldo da aplicação financeira. A coluna recebeu relatos de leitores que sacaram dinheiro de planos de previdência mantidos há mais de 16 anos. Além do saldo em si, há toda a tensão de estarmos no meio de uma pandemia e com fortes incertezas em relação ao futuro, o que deixa as pessoas ainda mais sensíveis com suas economias.
Se está pensando em seguir a onda, esqueça. Não faça isso e tenha sangue frio. Fundos de previdência são aplicações de longo prazo, pensados para décadas, e não devem ser sacadas por oscilações eventuais durante crises, que tendem a se normalizar. E já estão se normalizando, alerta o especialista Rogério Braga, sócio da gestora de fundos Quantitas Asset. Ainda não é o otimismo que vemos nas bolsas de valores nos últimos dias, mas os ativos já começaram a ter boas perspectivas.
- Apesar do nome, a renda fixa também pode oscilar. O "fixo" se refere à modalidade de retorno.
Além das taxas, há a marcação a mercado dos ativos. Ela ocorre quando o preço é definido pela negociação de mercado entre comprador e vendedor. Nas crises, os valores dos títulos caem porque há uma corrida de investidores que querem de desfazer. E isso se reflete no saldo diário da sua aplicação, o que não quer dizer que o movimento se manterá. É bom ter atenção e monitorar, claro, mas, em geral, ele é revertido depois. Pergunte para o gestor do seu dinheiro o que está acontecendo, onde ele está aplicado exatamente e quais as perspectivas. Ele é pago também para responder aos seus questionamentos.
Outro alerta importantíssimo são para as taxas que são cobradas usualmente em planos de previdência privada. Assumir o prejuízo de sacar em momento de desvalorização da aplicação, junto com esses outros custos, pode corroer em mais de um terço o patrimônio da aposentadoria. Sem falar que, normalmente, as taxas de administração de planos de previdência privada já são as mais altas do mercado.
A rentabilidade ruim dos planos de previdência também está ocorrendo em outros investimentos e não é a primeira vez que acontece. A taxa de juro Selic - que é referência da economia - está caindo bastante e deve ter nova redução na reunião da semana que vem do Banco Central, o que afeta a renda fixa como uma todo. Ao mesmo tempo, as ações de empresas sofreram bastante nos primeiros meses do coronavírus, atingindo fundos que têm parte dos recursos aplicada em renda variável, lembra Rogério Braga para a coluna.
Não faça a escolha errada
Muitas pessoas tiveram realmente um impacto forte na renda, com a pandemia até zerando os ganhos. Para sobreviver, serão obrigadas a sacar dinheiro guardado. Há uma tendência, em alguns casos, de tirar dinheiro da previdência pensando que são valores para um futuro distante e que depois esse montante pode ser reposto. Mas não é esse o raciocínio adequado. É preciso escolher uma aplicação com mais liquidez, como se fala no mercado, que gera menos custo para a retirada do dinheiro, que tenha sido menos afetada pela crise e tenha menos perspectiva de recuperação dos ganhos no futuro. Ou seja, tudo indica que sacar do plano de previdência privada é a escolha errada no mundo.
Sem falar que você também pode perder benefícios fiscais, que são concedidos aos planos de previdência privadas nas modalidades Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) e o Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL). Há a aplicação de tabela regressiva do Imposto de Renda (IR) com alíquotas menores para aplicações de longo prazo. Seria mais um baque no seu patrimônio.
Portabilidade
Mas se você está incomodado com a rentabilidade do seu fundo de previdência privada, também pode analisar a aplicação em outras instituições financeiras. Em especial, melhores taxas de administração, já que, nas atuais circunstâncias, 1% já é um percentual altíssimo. Solicite propostas e, se forem mais atrativas, faça a portabilidade, levando seu dinheiro para quem valorizá-lo mais.
Abaixo, assista a entrevista completa com o especialista em investimentos Rogério Braga:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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