Apesar de um certo alívio trazido pela deflação neste momento, é uma queda de preços longe de ser comemorada. A coluna monitora semanalmente os índices de inflação e percebe como a pandemia já aparece com mais força nos cálculos. Nesta terça-feira (28), o IBGE divulgou IPCA-15 de -0,01% para o país e de -0,04% para a região metropolitana de Porto Alegre. O indicador é considerado uma prévia da inflação oficial do país para o mês de abril.
O principal impacto é na gasolina, que tem sido a principal pressão de baixa da inflação A queda no preço do petróleo gerou redução nas refinarias, chegando às bombas. Mas, por trás desse efeito, está a queda absurda na demanda. Seja mundialmente, com a covid-19 derrubando as previsões de consumo de combustíveis pelo mundo. Seja localmente, com os postos vendendo menos gasolina. O bom mesmo era o preço da gasolina estar caindo por termos refinarias mais eficientes e uma carga tributária menor.
Os alimentos ainda são pressão de alta sobre o índice, o que não surpreende. Leite e ovos dispararam no início da pandemia, ainda sem uma explicação que convença bem os consumidores, e gerando descontentamento e até manifestação pública da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Hortigranjeiros também tiveram um aumento, mas a Ceasa já sinaliza reduções recentes em Porto Alegre, com a queda no consumo. A carne segue em queda, mas é um movimento que ainda ocorre em cima da disparada de preços ocorrida no último trimestre de 2019.
Também teremos uma deflação de serviços, provocada pela retração generalizada na demanda. Não há espaço para aumento de preços. Muitos, inclusive, estão proibidos de funcionar. Teremos, portanto, uma deflação de demanda.
Com a deflação de abril, o acumulado de 12 meses do IPCA recua para 2,92% no país. Em Porto Alegre, é de +2,40%. O bom seria termos a inflação de 4% que era a meta do governo federal, mas este é um cenário não mais possível com a greve crise provocada pela covid-19.
- Você está com uma das maiores recessões que o Brasil já passou, isso gera um efeito muito substancial sobre o consumo, até porque você terá um aumento muito grande do desemprego. Para 2020, a gente espera que o desemprego alcance patamares entre 13,5% e 14%. Você acaba passando o ano todo com uma demanda muito deprimida, o que significa a pressão para baixo dos preços porque as pessoas não compram. O consumo de bens e serviços vai continuar em um patamar baixo, mesmo a partir do momento em que se tenha uma recuperação - comenta João Fernandes, economista da Quantitas Asset.
Uma das instituições do Rio Grande do Sul consultadas pelo Banco Central para elaborar o relatório Focus, a Quantitas Asset tem feito sucessivos cortes nas suas projeções para a inflação. Agora, a aposta é que o IPCA feche 2020 em 1,4%, que é uma inflação muito baixa e, novamente, nem um pouco comemorada.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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