Os shoppings foram praticamente fechados no início da pandemia, em meados de março. Apenas algumas operações continuaram funcionando. Agora, com as flexibilizações, as reaberturas estão ocorrendo, mas o coronavírus ainda é uma forte ameaça. Por um bom tempo, a operação dos shoppings centers não voltará ao que era antes. Sobre isso, o programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha) conversou com Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce). Confira alguns trechos e ouça a entrevista completa, inclusive falando de São Paulo, no final desta coluna:
Vocês atualizaram o protocolo de reabertura dos shoppings. Quais são os destaques no novo documento?
Não estamos pressionando governos pela abertura, quem tem o controle dos dados de saúde é o poder público, que tem de tomar a decisão que passe segurança para reabertura do comércio. O nosso intuito com o protocolo é dar tranquilidade para o poder público de que, definida a abertura, estaremos preparados para minimizar o risco o máximo possível, que só será zero quando tivermos uma vacina. As medidas vão no sentido de distanciamento, higienização e monitoramento. Aspectos para dar segurança para funcionários e frequentadores retomarem, gradualmente, com serenidade e responsabilidade, as suas atividades e a sua vida. Esses 40 e 50 dias em que o comércio está fechado servem para conter o vírus, preparar o sistema público de saúde e para entender como será esse novo momento da vida de todos nós.
A Abrasce também encaminhou um documento para o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr., se colocando à disposição. Está sendo encaminhado para os prefeitos em geral, ou aqui em Porto Alegre teve algum motivo especial?
Estamos nos antecipando e passando para 222 prefeitos de cidades que têm shopping no Brasil. Aí no Rio Grande do Sul, são 13 cidades. Cinco já têm shopping aberto e faltam oito cidades. Nosso intuito é passar que o nosso protocolo não foi feito de forma rápida e sem critério. Analisamos o que está acontecendo na Ásia e na Europa. Conversamos com profissionais de saúde, pegamos pareceres sobre o nosso sistema de ar condicionado. É um protocolo bem robusto que está totalmente em linha, eu posso garantir, com os protocolos que estão sendo implementados com sucesso na China e na Alemanha, que reabriu o comércio no dia 20. Sempre lembrando que a participação e a responsabilidade de cada indivíduo são grandes. As pessoas devem sair à rua, quando for o momento certo, com máscaras, higienizando as mãos e mantendo a distância. É um jogo em que todo mundo tem uma parte super importante. O poder público, a iniciativa privada e, sobretudo, a população.
Algumas imagens da reabertura de um shopping em Blumenau, em Santa Catarina, deixaram as pessoas muito preocupadas e isso pode fazer o poder público recuar na flexibilização. Houve aglomeração e o vídeos mostravam muitos clientes do grupo de risco.
Você tem razão, isso acaba influenciando. A gente tem que parametrizar e contextualizar o nosso momento. É um momento em que está todo mundo ansioso. Os empresários de shoppings center, os lojistas, toda cadeia de suprimentos, os consumidores, as pessoas em geral estão cansadas, é uma situação inédita você estar preso em casa sem poder sair. Todos querem retomar a rotina. Então, naquele dia, outros 42 shoppings estavam abrindo. Desses 43, apenas um saiu da curva. Nós tivemos 42 bons exemplos de medidas tomadas, de pessoas com cuidado, de distanciamento, de não aglomeração de pessoas, de fluxo menos intenso, e teve um caso, que talvez seja a "a exceção que confirma a regra". Mas a situação foi rapidamente controlada. A nossa ideia não é ter um fluxo intenso nos nossos shoppings agora. Queremos restabelecer a segurança do consumidor e dos funcionários dos nossos empreendimentos. É preciso reabrir com cuidado, com serenidade, com a nova normalidade. Hoje, são 60 shoppings abertos e não se noticia mais tumulto, falta de informação, promoções e eventos. Então, eu acho que serve de aprendizado. O shopping foi bastante criticado, tomou as atitudes de correção e hoje opera com muita responsabilidade.
O senhor tem participado das negociações com os governos. O que acha que o governo pode fazer a mais agora?
Acreditamos nas políticas de isolamento e esses 40, 50 dias foram fundamentais para conter o vírus. Mas, sob o ponto de vista da economia, desde o primeiro dia, o nosso foco é garantir renda para as pessoas, emprego e crédito para o lojista. Então, em nenhum momento, solicitávamos medidas para os empreendedores de shopping. Nosso foco é: o lojista precisa, o lojista não tem fluxo de caixa, não tem caixa, não tem acesso à crédito, nós temos que ajudar o lojista a ficar vivo porque o desemprego vai aumentar, a inadimplência vai aumentar, a falência de muitas empresas vai aumentar, uma situação terrível. Fizemos, então, uma série de solicitações, de sugestões para todos os governos, como diferimento de impostos, isenção de impostos, linhas de crédito com taxas e prazos. Algumas foram atendidas, mas, de forma geral, muito pouco. Hoje, eu tenho na média que 10% a 15% dos lojistas conseguem ter acesso ao crédito. O governo disponibilizou o crédito, só que está empoçado nos bancos, que não estão conseguindo entender a dimensão da situação, não estão assumindo os riscos e não permitem que o dinheiro chegue para o lojista. Então, tomamos diversas medidas, como isenção de aluguéis, taxas, fundos, reduções de cobranças. Os shoppings colocaram para os lojistas mais de R$ 2 bilhões para que eles possam continuar vivos e operando. E não estamos vendo essas medidas sendo tomadas por prefeituras, estados e governo federal. Empresas de energia elétrica não estão se abrindo para negociar contrato. É o principal custo de condomínio de um shopping.
Sobre as negociações do aluguel dos shoppings com os lojistas. Foi uma das primeiras orientações que a Abrasce deu. Como está a relação?
Isso tem evoluído bastante. A gente não sabia em março a dimensão dessa crise, quanto tempo duraria. A nossa primeira recomendação era adiar o aluguel. Jogar lá para frente e depois conversar. Só que a crise se prolongou e o que tem acontecido é que grande parte dos empreendedores de shoppings tem também isentado o aluguel. Isso aconteceu no de março que venceu em abril e está acontecendo no aluguel de abril, que vence em maio. Outros tantos decidiram dar grandes descontos e cobrar apenas em 2021. Posso dizer que quase a totalidade do setor entendeu a gravidade. Geralmente, ficaria uma guerra entre lojistas e empreendedores, mas temos observado uma parceria muito grande.
Quais as projeções atuais para abertura dos shoppings?
Pela tendência, teríamos mais 30 ou 40 dias para uma reabertura completa dos shoppings no Brasil. Mas é sempre bom fazer a ressalva de que as coisas mudam. De repente, aparece algum dado novo que possa acelerar ou reduzir a velocidade dessa reabertura.
Ouça a entrevista completa com o presidente para o programa Acerto de Contas. Domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha. Ouça aqui:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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