Calçadista gaúcha com indústrias e lojas, a Usaflex vinha crescendo 25% ao ano, contratando, construindo fábricas, abrindo pontos de venda e analisando a compra de outras empresas. Como todos, foi pega pela pandemia e agora o CEO, Sérgio Bocayuva, faz e refaz planejamentos com cenários que também são atualizados com frequência.
É característica do setor a necessidade de mão de obra. Quando a venda praticamente para, os empregos sentem. Por baixo, tem-se calculado 5 mil demissões nas indústrias de calçados do Rio Grande do Sul no último mês e meio. A Usaflex também sangrou, demitiu 500 no final de março e dispensou mais 300 agora. Isso significa uma redução exata de 24% no quadro de funcionários, mas há calçadistas que estão cortando 70% dos postos de trabalho.
- Pessoal me pergunta de qual fábrica são as dispensas, mas isso não é o que eu considero relevante. São empregos, meus funcionários, não importa onde estejam alocados, é muito dolorido. Fiquei emocionado com empregados que já estavam aposentados se oferecendo para entrar nesse grupo. Mas se o meu cenário atual se confirmar, eu vou recontratar 700 desses funcionários em quatro meses. Enquanto isso, estou conversando com eles, acertei cestas básicas no período, querendo minimizar todo esse impacto no nosso pessoal.
A Usaflex adotou férias coletivas e agora negocia a redução de jornada e salário, com a complementação feita pelo governo federal. Devido a algumas questões da medida provisória, não conseguiu implementar para todos os funcionários. Conduzindo a negociação com sindicatos de trabalhadores locais, Bocayuva descarta, ao menos neste momento, o fechamento de alguma das fábricas. A sede da fabricante de calçados fica em Igrejinha.
O cenário de Bocayuva é um grande impacto na coleção de inverno, ainda pela queda de venda do Dia das Mães. Segundo ele, o calendário vai se prolongar. Pegando o que ocorreu com a covid-19 em outros países, o CEO planeja o negócio com a possibilidade de haver um repique da doença em junho ou julho, com retorno de medidas de isolamento, e depois o início da volta à "normalidade possível".
- Já estou olhando a retomada. Fiquei das 8h às 21h em reunião no último sábado, já projetando a retomada. Meu market share (participação de mercado) será maior e precisarei produzir e, para isso, terei que abrir empregos. Mas será uma carnificina de preços. Muitas empresas ficarão pelo caminho, mas quem sobreviver ficará bem, ficará maior.
A carnificina de preços citada pelo CEO da Usaflex faz referência à forte negociação que ocorrerá e, aliás, já está começando a acontecer nos mais diversos setores. É difícil enxergar a retomada, como será o mercado consumidor, em termos de tamanho, comportamento e, claro, poder de compra. Quem acertar a projeção e se prepará melhor, tende a ficar mais forte.
A Usaflex é patrocinadora do Big Brother Brasil (BBB). O contrato fechado em outubro de 2019 e já foi pago, informa Bocayuva. Demais investimentos, no entanto, estão em suspenso até a retomada.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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