Grupo com atuação na indústria e no varejo, a Paquetá fez uma leva de demissões nesta semana que chamou a atenção no setor. Em recuperação judicial e com cerca de 10 mil funcionários, a empresa não informa o número de desligamentos, mas é um número alto, conforme as informações recebidas pela coluna.
Na unidade de Teutônia, foram 130 trabalhadores dispensados nessa quinta-feira (2). A informação é do presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Calçado e Vestuário da cidade, Roberto Muller.
Em nota enviada para a coluna, a Paquetá cita as demissões que estão sendo feitas por todo o setor devido à covid-19 e seus impactos na economia. Afirmou ainda que não tem relação com a recuperação judicial e que atingiu a parte ociosa da operação da empresa. Confira a nota completa no final desta coluna.
A coluna também conversou com Rafael Brizola Marques, representante do escritório Brizola e Japur Administração Judicial, que foi nomeado pela Justiça para atuar como administrador judicial no processo da Paquetá. O advogado disse que foi comunicado pela empresa de que haveria redução no quadro de funcionários, ainda sem um número oficial de demissões.
- A empresa avisa que será uma redução proporcional em todas as operações. Além disso, não há a intenção de fechar as unidades.
E, realmente, a coluna já contabilizou 1,2 mil demissões em fábricas de calçados desde que a pandemia de coronavírus foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Vice-presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados do Rio Grande do Sul, João Nadir Pires já calcula mais de 2 mil dispensas. Observa que as terceirizadas também estão dispensando, incluindo os ateliês que são contratados por elas.
- Alguns pequenos começam a achar que não conseguirão voltar a produzir - diz o sindicalista.
O setor calçadista tem fechado postos de trabalho nos últimos anos. Até estava apresentando algumas recuperações recentes, com o aumento da exportação para os Estados Unidos e uma recuperação do mercado interno brasileiro. Agora, com o impacto da pandemia na economia, o consumo volta a cair, assim como os embarques para o exterior. De janeiro a março, o Rio Grande do Sul exportou 16% menos calçados, segundo o balanço do governo federal, em relação ao mesmo período do ano passado.
Confira a nota na íntegra da Paquetá:
“Paquetá, seguindo - infelizmente - um movimento inevitável do setor calçadista, atingido pela atual crise mundial gerada pela pandemia do COVID-19, realizou demissões de funcionários.
Essa medida foi adotada para adequação das plantas fabris à nova realidade que está sendo trazida ao setor calçadista pela crise. A empresa está desligando funcionários relacionados à sua capacidade fabril ociosa, sem qualquer impacto nas operações rotineiras.
Essa medida não possui relação com recuperação judicial da empresa, que segue seu curso normal, aguardando redesignação de Assembleia-Geral de Credores, que foi suspensa em razão da impossibilidade de reunião dos credores causada pela pandemia.”
Os problemas financeiros da Paquetá existem há alguns anos. Ainda em agosto de 2018, a coluna conversou com a direção do grupo, que afastou a possibilidade de um pedido de recuperação judicial, como o mercado calçadista suspeitava que ocorreria. Relembre: Paquetá troca comando e contrata consultoria financeira, mas segue com a expansão. Dois meses depois, em outubro, o grupo transferiu a sede do negócio de varejo multimarcas da zona norte de Porto Alegre para Canoas. Em 2019, a empresa pediu a recuperação judicial e teve a solicitação deferida pela Justiça.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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