Em resposta às especulações sobre o impacto da alta do petróleo nos combustíveis, a Petrobras divulgou à noite passada um comunicado sinalizando que não haverá reajustes imediatos. A nota foi enviada ao mercado e disponibilizada na área de relação com investidores no site da estatal. No texto, afirma que seguirá acompanhando a situação e que decidirá "oportunamente" sobre preços. A empresa ressaltou ainda que, "de acordo com suas práticas de precificação vigentes", não há periodicidade pré-definida para reajustes dos valores dos combustíveis nas refinarias.
O preço do petróleo, junto com o câmbio, é fato essencial na decisão da Petrobras de aumentar preços de gasolina e diesel na refinaria, onde é a estatal que define valores. E o "ouro negro" teve uma alta imediata logo após o bombardeiro na Arábia Saudita, superando 4% tanto no petróleo doce leve, muito usado para fazer gasolina, quando no tipo Brent, que é parâmetro na Europa. No decorrer do dia, esse aumento até perdeu força. Isso ocorre porque a região atacada é uma das importantes na produção de petróleo e gera receio de problemas no fornecimento mundial da principal matéria-prima de combustíveis e da indústria petroquímica.
Confira a íntegra do comunicado:
"Petrobras informa sobre preço dos combustíveis diante dos eventos ocorridos no Oriente Médio
Rio de Janeiro, 03 de janeiro de 2020 - A Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras, informa que, em função dos últimos acontecimentos ocorridos no Oriente Médio, segue com o processo de monitoramento do mercado internacional.
A companhia ressalta que, de acordo com suas práticas de precificação vigentes, não há periodicidade pré-definida para a aplicação de reajustes.
A empresa seguirá acompanhando o mercado e decidirá oportunamente sobre os próximos ajustes nos preços."
Questionado quando saía do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer no início da manhã dessa sexta-feira (3) que a alta do petróleo após os ataques dos Estados Unidos ao Iraque iria impactar no preço dos combustíveis. O assunto será debatido em uma reunião da equipe de governo na próxima segunda-feira (6). Bolsonaro diz que o aumento no preço do barril de petróleo é o que mais preocupa neste momento.
— A coisa que mais nos preocupa é uma possível alta do petróleo, que está em torno de 5% no momento. Conversei com o presidente da Petrobras e a exemplo do que aconteceu na Arábia Saudita, no ataque de drones, que em poucos dias voltou à normalidade, a gente espera que aconteça agora também — disse ele, lembrando do fato ocorrido em 2019. No entanto, na ocasião, a Petrobras disse que não aumentaria preços e fez o reajuste logo depois.
Ainda nessa sexta, a coluna punblicou que há uma boa "gordura" para a Petrobras queimar antes de reajustar a gasolina, por exemplo. A opinião é compartilhada, inclusive, por especialistas ouvidos pela coluna. O preço que a estatal está cobrando pela gasolina está 4% acima do cobrado no exterior, diferente de setembro de 2019, quando ocorreram ataques na Arábia Saudita, ameaçando a produção de petróleo, mas a gasolina na refinaria brasileira estava 12,5% abaixo do mercado internacional. Inclusive, naquela ocasião, o petróleo disparou 18%, muito mais do que agora.
Economista da gestora de fundos Quantitas, João Fernandes cruza informações fazendo um monitoramento do comportamento dos preços do petróleo, da gasolina no golfo dos Estados Unidos, do combustível nas refinarias da Petrobras e na bomba, para o consumidor. Avisa que, por hora, a alta verificada para a commodity traz poucas implicações. Inclusive, vê maior possibilidade para uma queda de preços.
— O preço externo está abaixo do cobrado internamente pela Petrobras na refinaria já há algum tempo. Com a alta de hoje a diferença diminuiu, mas continua abaixo. Se não houver uma escalada para algo mais grave, mantendo o preço do petróleo nos níveis atuais, a probabilidade de uma queda é maior que uma alta — diz Fernandes.
Químico industrial e atuante no setor de combustíveis, Marcelo Gauto também não acredita em aumento de preços agora na refinaria. Pelo que acompanha, a tensão entre Irã e Estados Unidos teria de se prolongar por mais de uma semana para que isso se justificasse.
— A postura da empresa tem sido aguardar diante de movimentos de volatilidade. Se o viés de alta se mantiver por mais de uma semana, será inevitável a correção no mercado doméstico — explica Gauto.
Até mesmo o dólar, que seria uma pressão de alta, não teve uma elevação tão intensa assim na manhã desta sexta-feira (3). Sendo que ele caiu nas últimas semanas, sem que a Petrobras reduzisse os preços nas refinarias. O último ajuste foi um aumento no final de novembro. No entanto, pode ser que intensifique a alta, caso a tensão de prolongue no Oriente Médio. É um ativo de menor risco, procurado por investidores quando há receio sobre a economia mundial, o que reduz oferta e eleva cotações.
Há ainda o risco de inflação. A gasolina subiu nos últimos meses, pressionada pelo aumento na refinaria já reflexo de altas anteriores do petróleo, alta do etanol adicionado a ela e também pelo consumo maior na época de férias. Isso, junto com a disparada da carne, provocou uma aceleração mais forte do que o esperado nos índices de inflação na finaleira de 2019.
— Os riscos ficam por conta das pressões inflacionárias e seus impactos sobre os juros e câmbio, em um momento de retomada da economia. O repasse para os preços tende a ser mais rápido — pondera o professor da UFRGS Marco Martins.
Martins finaliza sugerindo cautela aos investidores e pede que evitem movimentos precipitados.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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