Questionado quando saía do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que a alta do petróleo após os ataques dos Estados Unidos ao Iraque iria impactar no preço dos combustíveis. Ainda falando com jornalistas, disse, no entanto, que tinha tendado falar com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Petrobras, Roberto Cartello Branco, mas eles não tinham atendido o telefone.
A consequência parece óbvia, realmente. O preço do petróleo, junto com o câmbio, é fato essencial na decisão da Petrobras de aumentar preços de gasolina e diesel na refinaria, onde é a estatal que define valores. E o "ouro negro" teve uma alta imediata logo após o bombardeiro em Bagdá, superando 4% tanto no petróleo doce leve, muito usado para fazer gasolina, quando no tipo Brent, que é parâmetro na Europa.
No entanto, há uma boa "gordura" para a Petrobras queimar antes desse repasse. A opinião é compartilhada, inclusive, por especialistas ouvidos pela coluna. O preço que a estatal está cobrando pela gasolina está 4% acima do cobrado no exterior, diferente de setembro de 2019, quando ocorreram ataques na Arábia Saudita, ameaçando a produção de petróleo, mas a gasolina na refinaria brasileira estava 12,5% abaixo do mercado internacional. Inclusive, naquela ocasião, o petróleo disparou 18%, muito mais do que agora.
Economista da gestora de fundos Quantitas, João Fernandes sempre cruza informações fazendo um monitoramento do comportamento dos preços do petróleo, da gasolina no golfo dos Estados Unidos, do combustível nas refinarias da Petrobras e na bomba, para o consumidor. Avisa que, por hora, a alta verificada para a commodity traz poucas implicações. Inclusive, vê maior possibilidade para uma queda de preços.
— O preço externo está abaixo do cobrado internamente pela Petrobras na refinaria já há algum tempo. Com a alta de hoje a diferença diminuiu, mas continua abaixo. Se não houver uma escalada para algo mais grave, mantendo o preço do petróleo nos níveis atuais, a probabilidade de uma queda é maior que uma alta — diz Fernandes.
Químico industrial e atuante no setor de combustíveis, Marcelo Gauto também não acredita em aumento de preços agora na refinaria. Pelo que acompanha, a tensão entre Irã e Estados Unidos teria de se prolongar por mais de uma semana para que isso se justificasse.
— A postura da empresa tem sido aguardar diante de movimentos de volatilidade. Se o viés de alta se mantiver por mais de uma semana, será inevitável a correção no mercado doméstico — explica Gauto.
Até mesmo o dólar, que seria uma pressão de alta, não teve uma elevação tão intensa assim na manhã desta sexta-feira (3). Sendo que ele caiu nas últimas semanas, sem que a Petrobras reduzisse os preços nas refinarias. O último ajuste foi um aumento no final de novembro.
Há ainda o risco de inflação. A gasolina subiu nos últimos meses, pressionada pelo aumento na refinaria já reflexo de altas anteriores do petróleo, alta do etanol adicionado a ela e também pelo consumo maior na época de férias. Isso, junto com a disparada da carne, provocou uma aceleração mais forte do que o esperado nos índices de inflação na finaleira de 2019.
— Os riscos ficam por conta das pressões inflacionárias e seus impactos sobre os juros e câmbio, em um momento de retomada da economia. O repasse para os preços tende a ser mais rápido — pondera o professor da UFRGS Marco Martins.
Martins finaliza sugerindo cautela aos investidores e pede que evitem movimentos precipitados.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Siga Giane Guerra no Facebook
Leia mais notícias da colunista